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18 de abril de 2024O ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró, preso desde quarta-feira da semana passada, vai prestar depoimento hoje à tarde, na Polícia Federal (PF), sobre a polêmica compra, em 2006, da Refinaria de Pasadena, no Texas (EUA). Na manhã dessa quarta-feira (21), depois de visitar o cliente na carceragem da PF, em Curitiba, o advogado Edson Ribeiro afirmou que, agora, Cerveró “será contundente”. Ele ressaltou que o ex-diretor vai apontar a responsabilização do Conselho de Administração da estatal e da presidente Dilma Rousseff, que, na época, presidia o colegiado. O Palácio do Planalto está em alerta. Nos bastidores, existe o temor de que Cerveró traga novas informações e puxe a presidente novamente para o centro do escândalo. Até o fechamento desta edição, a assessoria de comunicação da PF não havia confirmado o horário do depoimento.
De acordo com a defesa, a tese que será defendida pelo ex-diretor é de que, se Dilma diz que tomou a decisão de compra com base em parecer falho, a petista não foi diligente ao analisar os documentos. A compra da refinaria, segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), causou um prejuízo de US$ 792 milhões à estatal. Aos que visitam Cerveró na prisão, o ex-executivo tem demonstrado sua mágoa com a maneira como foi tratado pela petista. “Ele está indignado com a situação. Desta vez, o depoimento será contundente. Ele não teve contundência (contra a presidente Dilma) anteriormente por determinação minha. Por quê? Estávamos num período pré-eleitoral e eu não quis que Nestor fosse usado por um partido ou por outro”, explicou Ribeiro.
O defensor afirmou que Cerveró, diferentemente do que se espalhou em Brasília, não é um homem-bomba. “Ele apenas vai falar a verdade. Quem descumpriu o estatuto social da Petrobras foi o Conselho de Administração. Vai dizer que, se o parecer era falho, a presidente Dilma, que presidia o conselho, tinha obrigação de chamá-lo para tirar todas as dúvidas.” De acordo com Ribeiro, no depoimento de hoje, Cerveró será bastante objetivo. “Vai apontar o que for para apontar. Essa responsabilização (da presidente) será dita aqui. Ele não tem nenhum trunfo. Só vai dizer o que realmente aconteceu”, declarou.
• Alerta no Planalto
A artilharia voltada para a presidente colocou o Palácio do Planalto em alerta desde a prisão de Cerveró, no dia 14, quando Edson Ribeiro afirmou que a presidente da Petrobras, Graça Foster, também deveria ter sido presa. Para os palacianos, as acusações soaram completamente fora do tom. A ordem no Planalto é blindar a presidente ao máximo para evitar que essas declarações respinguem em Dilma. Na terça-feira, o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Pepe Vargas, repetiu o discurso que tem sido adotado quando a presidente ou Graça Foster são citadas em denúncias que envolvam a Petrobras. Segundo ele, “não há nenhuma responsabilização de Dilma, e quem vier a dizer isso terá que provar”. O ministro ressaltou que a petista não foi citada por nenhum órgão que investiga ilícitos na Petrobras. Ontem, o Planalto não comentou as novas declarações da defesa de Cerveró.
O líder do governo na Câmara reforçou a proteção em torno de Dilma. “A presidente não tem nenhuma questão a temer. Tanto que está fazendo as investigações para apurar o que está ocorrendo na Petrobras. Vamos aguardar o depoimento dele (Cerveró)”, disse o deputado Henrique Fontana (PT-RS).
Na semana passada, os advogados anexaram ao pedido de habeas corpus um parecer sobre a negociação de Pasadena, redigido por um escritório do Rio de Janeiro. O documento, entregue à Justiça Federal, aponta que houve “negligência, violação do dever de diligência e precipitação desnecessária” do Conselho de Administração da estatal na compra do empreendimento em questão. “Se agora entenderam quem o negócio foi ruim, não houve diligência na época. O Conselho de Administração, então, precisa ser responsabilizado. O próprio estatuto diz que, se o conselho não cumprir as regras, ele é responsabilizado, inclusive com bloqueio de bens”, informou Ribeiro.
Além de Dilma, integravam o colegiado o ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli e o ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci. O próprio Gabrielli – que até hoje defende a compra da refinaria – disse que, se houve erro, Dilma precisa ser responsabilizada. O parecer entregue por Cerveró indica que não houve zelo na análise da negociação por parte dos conselheiros. “Fica claro que o Conselho de Administração não observou as normas internas, imperativas, da Petrobras, que regiam tais tipos de aquisições.” (Colaborou Naira Trindade)
Senha
Na manhã de ontem, Nestor Cerveró forneceu aos policiais federais a senha do celular e do tablet apreendidos com ele, no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, no momento da prisão. De acordo com o advogado, o ex-diretor recebeu, ontem, a visita do filho.O Ministério Público Federal do Paraná justificou o pedido de prisão do ex-diretor da Área Internacional da Petrobras dizendo que “há fortes indícios de que ele continua a praticar crimes”. Cerveró teve a prisão preventiva decretada após movimentação financeira suspeita. Além de doar imóveis para parentes,
no Rio de Janeiro, o ex-executivo da Petrobras teria tentado sacar R$ 500 mil de uma aplicação financeira. Para a Polícia Federal, ele estaria se movimentando para fugir do país.