06/06/2003 – 19:47 | Edição nº 264
O GP, dono de AmBev e Lojas Americanas, põe um pé no capital do segundo
maior frigorífico do país
A Perdigão está perto de ganhar um sócio novo — e não é um qualquer. O GP Investimentos, de Jorge Paulo Lemann, que controla gigantes como AmBev e Lojas Americanas, está com um pé na empresa. O controle do frigorífico, o segundo maior do país, pertence a um grupo de fundos de pensão que possui 80% das ações com direito a voto. Até o momento, eles vinham caminhando sempre juntos, mas o GP separou-os. A Previ, que é a maior acionista, resiste à venda e lidera outros fundos de funcionários de empresas estatais. Dois, porém, decidiram vender sua parte: a Sistel, dos empregados das empresas do antigo Sistema Telebrás, e a pequena Telos, da Embratel. Juntas, têm exatos 19% das ações com direito a voto. Não é o
suficiente para dar ao GP o comando na Perdigão. Mas muda o jogo na indústria de produtos de frigorífico.
A Perdigão se tornou alvo de uma blitz do GP porque entrou em fase financeira delicada. A longo prazo, o quadro é ensolarado: a empresa tem eficiência indiscutível, marca forte e boa presença no mercado. Seu problema é mais imediato, de caixa. Ciclos de alta e baixa são normais no setor, mas a empresa foi flagrada desta vez com dívidas mais pesadas que o normal, fruto de quase R$ 800 milhões em investimentos — a maior parte em uma megainstalação em Rio Verde, em Goiás. O preço de seus principais insumos, soja e milho, bateu recordes no ano passado e, com isso, os últimos balanços mostraram prejuízos — o do ano passado e o do primeiro trimestre.
Em casos extremos, a empresa poderia precisar de injeção de capital. A bilionária Previ, maior fundação de previdência do Brasil, não parece se preocupar com isso. Mas a Sistel e a Telos, com caixa curto, não podem correr o risco. Uma sombra ameaça no horizonte: a de perder os incentivos fiscais que levaram a Perdigão para Rio Verde, como efeito colateral da reforma tributária que tramita no Congresso.
Nas negociações, os executivos do GP sustentam para os fundos de pensão que só têm interesse em comprar ações se for possível levar todo o blocode controle. Quem conhece o negócio mais por dentro, porém, diz que já existe acordo para que o grupo de Lemann leve a parte da Sistel e da Telos. Esperar pela Previ, de fato, pode demorar mais que a agenda do GP permite. O presidente da fundação do Banco do Brasil, Sérgio Rosa, considera a agroindústria estratégica para os investimentos do fundo. Acha ainda que os investimentos valorizarão a companhia e que ela será protagonista de fusões no setor. Sua visão é influente: foi Rosa quem pôs no cargo Wagner Pinheiro, o presidente da Petros — a terceira maior acionista da Perdigão. A resistência pode ser apenas uma forma de aumentar o preço das ações. Mas o próprio GP não discorda do diagnóstico de Rosa: o sonho de Lemann é juntar a Perdigão com a Sadia. O resultado seria uma empresa já apelidada de \”AmBev do frango\”.