Cautela, como sempre, é a sua senha e um banqueiro central esperto não busca publicidade. Mas antes da reunião desta semana para decidir sobre os juros, o Banco Central Europeu (BCE) evidentemente sente que sua estratégia no combate á crise econômica está sendo justificada.
A zona do euro, que agrupa 16 países, está saindo da recessão – com França e Alemanha à frente do Reino Unido e dos Estados Unidos -, enquanto os riscos de uma deflação diminuem e políticas estão sendo implementadas para dar uma arrancada nos empréstimos bancários.
“Eles devem estar se sentindo bem, porque não parece que é necessário fazer muita coisa mais”, afirma Erik Nielsen, economista do Goldman Sachs para a Europa.
Evitado o desastre, a reunião desta quinta-feira deverá mostrar que o Banco Central Europeu estará agora concentrado em manter o equilíbrio da situação nas próximas semanas e meses.
Conforme Jean-Claude Trichet, o presidente do BCE, alertou na reunião dos banqueiros centrais realizada no fim de semana retrasado em Jackson Hole, Wyoming (nos Estados Unidos) notícias econômicas melhores “não significam que não teremos uma estrada esburacada pela frente”.
Os dados fracos sobre o crédito na zona do euro, divulgados na quinta-feira- mostrando que no geral as empresas estão pagando dívidas em vez de contraírem empréstimos-, são um lembrete da fragilidade da recuperação.
É quase certo que a taxa básica de juro do BCE permanecerá inalterada em apenas 1%. E mais importante: Trichet não deverá sugerir que nenhuma sobretaxa seja imposta na próxima oferta de liquidez por um ano, prevista para o fim de setembro.
No primeiro desses leilões, realizado em junho, o BCE injetou 442 bilhões de euros (US$ 629 bilhões) em liquidez de 12 meses, um volume recorde para uma única operação do BCE.
O efeito foi a redução das taxas de juros no prazo mais longo: as taxas de juros de 12 meses na zona do euro estão no momento mais baixas que as dos Estados Unidos. Impor uma sobretaxa sobre os juros de 1% para conter a demanda significaria, na verdade, um aperto na política monetária.
Olhando adiante, o BCE vislumbra a economia da zona do euro caminhando em direções a condições mais normais. Depois da crise do fim do ano passado, quando as previsões não conseguiram acompanhar o ritmo da contração, os modelos econômicos usados pelo Banco Central Europeu para prever o crescimento e a inflação poderão começar a funcionar novamente.
Persistem as preocupações com um aumento do desemprego e com a ameaça representada pelos preços voláteis do petróleo e das commodities. Mas as previsões de crescimento do BCE para a zona do euro deverão ser revistas para cima nesta semana, mostrando perspectivas menos sombrias para o resto do ano e 2010.
Por outro lado, um ponto de vista que vem ganhando força em Frankfurt é que o otimismo com a economia dos EUA é exagerado. As dificuldades fiscais dos EUA estão sendo observadas cuidadosamente, e possivelmente com um toque de “schadenfreude” (expressão que designa o prazer em ver o sofrimento dos outros) em Frankfurt, cidade onde o BCE tem sua sede.
No decorrer da crise, o BCE vem alertando os governos que os gastos excessivos poderão simplesmente assustar os consumidores e empresas quanto às cargas tributárias futuras, desfazendo o efeito positivo sobre a atividade econômica.
Os mercados financeiros estarão em busca de sinais de que o BCE está mais perto de implementar uma “estratégia de saída” – desfazendo as medidas emergenciais adotadas desde outubro. Trichet deverá se mostrar bastante evasivo esta semana. Com as tarefas do BCE focadas no controle da inflação, o que importa é que as expectativas quanto aos preços futuros continuem alinhadas à sua meta de uma taxa anual de inflação “abaixo, mas perto de 2%”.
O presidente do Banco Central Europeu acredita que para atingir esse objetivo, o banco central precisa de uma “prontidão de credibilidade” – em outras palavras, mostrar que poderá agir a qualquer momento.
Com a inflação na zona do euro negativa, isso também significa agir para garantir que as expectativas em relação à inflação não ficarão muito abaixo da meta.
Essa aparente espontaneidade pode parecer estranha para a reputação do BCE de reagir as acontecimentos em uma ritmo mais calculado que o Federal Reserve (Fed), o banco central americano. Mas Trichet disse em Jackson Hole que uma política de “prontidão de credibilidade” maximizou o impacto das mudanças nas taxas de juros quando elas foram feitas, permitindo assim que o banco central alcançasse seus objetivos “com um grau satisfatório de economia de recursos”.