As denúncias de que um cartel montado por multinacionais fornecedoras do metrô de São Paulo teria contado com a participação de políticos do PSDB transformou a Congresso num cenário do embate entre petistas e tucanos nesta quinta-feira. O PT começou a colher assinaturas para abrir uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) que investigue o suposto cartel e o envolvimento de agentes públicos. Já o PSDB pediu uma audiência pública na Comissão de Fiscalização e Controle para ouvir o presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Vinícius Marques de Carvalho, e representantes da Siemens, Alstom, Temoinsa, Bombardier, CAF e Mitsui.
Enquanto a base dos dois partidos trocam acusações, líderes mais influentes adotavam um tom de moderação. No PT, ministros e líderes partidários defenderam a investigação dos contratos, mas evitam pré-julgamento. E o PSDB criticaram um suposto vazamento seletivo das informações. Lembraram que, além de contratos com o governo paulista, a Siemens firmou contratos com a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), órgão vinculado ao Ministério das Cidades.
— O governo de São Paulo quer cooperar com todos os que estão investigando esse cartel para saber quem se beneficiou e qual foi o montante do prejuízo ao estado. Tenho a mais absoluta certeza que não houve envolvimento dos ex-governadores do PSDB. Agora, os vazamentos tem sido seletivos e o noticiário bastante parcial. A Siemens falou da existência de cartel em vários contratos, a maior parte deles com a CBTU para os metrôs de Fortaleza, Salvador e Belo Horizonte. Se houve cartel, o estado de São Paulo foi vítima e quem errou tem que pagar. É diferentemente do caso do mensalão em que os que erraram foram prestigiados pelo partido — disse o líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP).
Autor do pedido de CPI na Câmara, o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), candidato à presidência do seu partido, frisou que a apuração está só começando:
— É grave porque quem denunciou foram as empresas que fizeram o cartel. É inusitado ter uma denúncia dessa natureza. É um momento que requer uma investigação muito profunda de um escândalo de enormes proporções. Não podemos fazer o julgamento antes — disse.
O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios informou ontem que quer ter acesso às provas colhidas no acordo de leniência da Siemens com o Cade. O MP está apurando possíveis irregularidades nos contratos de manutenção do metrô do Distrito Federal.
A Bombardier informou que repudia o recurso a práticas anticoncorrenciais e que está colaborando com as autoridades. A Siemens afirmou que também coopera integralmente. A Alstom, também investigada sobre irregularidades nos contratos de manutenção do metrô do DF, disse que a licitação na capital federal respeitou os marcos legais. A empresa reforçou que segue um rígido código de ética. Procurado, o Cade não fez comentários.