Um prejuízo de R$ 700 milhões para a economia brasileira foi causado pelo cartel para a comercialização de compressores herméticos para a refrigeração supostamente montado pelas empresas Whirlpool S.A., Tecumseh do Brasil, Elgin S.A., ACC , Danfoss e Matsushita/Panasonic. A estimativa, que engloba uma década de atuação das empresas, foi feita pela Secretaria de Direito Econômico (SDE) do Ministério da Justiça e pelo Grupo de Atuação Especial e Repressão à Formação de Cartéis e à Lavagem de Dinheiro e recuperação de Ativos (Gedec), do Ministério Público Estadual (MPE). Só em 2008, o prejuízo, calculado com base na venda de compressores no País, pode ter alcançado R$ 125 milhões. As empresas informaram que vão cooperar com as investigações.
Anteontem, conforme publicou o Estado, PF, SDE e Gedec deflagraram a Operação Zero Grau contra um suposto cartel formado no Brasil. Segundo a Polícia Federal (PF), a investigação sobre o cartel teve origem nos Estados Unidos. Além do suposto braço brasileiro do cartel, haveria um acordo de divisão de mercado e de uniformização de preços de compressores em todo o mundo. Pela primeira vez, foi feita uma ação simultânea contra um cartel envolvendo autoridades brasileiras, americanas e europeias. Buscas foram feitas em São Paulo, São Carlos (SP) e Joinville (SC) e em empresas nos EUA (Tecumseh), na Itália e na Dinamarca (Danfoss).
O suposto cartel dividiria o mercado nacional e internacional a fim de aumentar o preço do produto para as indústrias que usam o compressor para montar produtos como geladeiras. O mercado brasileiro comercializa cerca de 10 milhões de compressores por ano – o preço de cada unidade varia de R$ 70 a R$ 800, dependendo da tecnologia e do tamanho do vaso de refrigeração. O compressor é o motor que comprime e faz circular o fluido líquido ou gasoso que refrigera geladeiras, freezers, aparelhos de ar-condicionado, bebedouros, câmaras frigoríficas industriais e outros produtos.
EXECUTIVOS
Entre os alvos da Operação Zero Grau estavam executivos das empresas que teriam participado de reuniões e trocado correspondência para combinar preços e dividir o mercado. Eram 8h30 de anteontem, quando os agentes chegaram ao edifício da Rua Professor Artur Ramos, no Jardim Paulistano, na zona oeste de São Paulo, onde mora o ex-ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. Ninguém sabia no prédio do que se tratava. Os agentes subiram pelo elevador, passaram pelo 13º andar – o andar do ex-ministro – e foram parar no 19º. Era o apartamento do executivo Paulo Periquito que, desde 2007, é o presidente para a América Latina da Whirlpool, maior fabricante mundial de eletrodomésticos. No Brasil, a empresa controla a fábrica de compressores Embraco.
Dali, os agentes saíram levando computadores, laptops e documentos. Os federais também bateram na porta do ex-presidente da Tecumseh do Brasil, Gerson Veríssimo, que dirigiu a empresa até 2008. Em sua casa em São Carlos (SP), o executivo mantinha diversas fotos da visita que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez à Tecumseh, subsidiária da americana Tecumseh Products Company. Em São Paulo, outra casa do executivo foi revistada pela PF.
Veríssimo é um dos responsáveis pelo Código de Conduta Empresarial da Tecumseh. No item antitruste, o código diz que a empresa reconhece a importância da concorrência, \”acreditando que o bem-estar de clientes e consumidores é garantido por uma competição econômica livre\”. Em carta aos funcionários da empresa, Veríssimo diz, no site da Tecumseh, que o código \”invoca padrões de conduta esperados de todos os seus funcionários\”.