A demanda de investidores estrangeiros por papéis emitidos pelas
empresas brasileiras disparou. Do início do ano até agora, as emissões
no exterior já somam mais de US$ 12 bilhões, com demanda que ultrapassa
os US$ 55 bilhões – o que significa que há mais de US$ 40 bilhões que
ainda não foram alocados. No ano passado inteiro, as captações de
empresas brasileiras no exterior somaram US$ 38,6 bilhões.
Investidores europeus e americanos são os que mais têm procurado os
papéis de empresas brasileiras, mas agentes da Ásia e da América do Sul
também estão comprando papéis.
Segundo especialistas dos bancos de investimento e das companhias que
captaram recursos, uma das razões para tamanho interesse é que os juros
nos Estados Unidos e em alguns países da Europa estão muito baixos, com
taxas reais negativas. Isso força a busca por ativos mais rentáveis.
Além disso, as companhias do País têm bons fundamentos e estão
crescendo.
Outro motivo é que o mercado de emissões de bônus ficou praticamente
parado no segundo semestre de 2011, com o agravamento da crise da
Europa. Com isso, os investidores estavam com recursos disponíveis e sem
bons ativos para comprar.
O diretor financeiro da petroquímica Braskem, Alexandre Perazzo,
avalia que a decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central americano)
de manter a taxa de juros nos Estados Unidos em até 2% ao ano até 2014
abriu oportunidade para captar lá fora. “Notamos que o mercado está
precisando de papéis corporativos”, diz. A empresa decidiu reabrir uma
emissão anterior e captou US$ 250 milhões. A demanda total surpreendeu e
chegou a US$ 2,3 bilhões. O executivo destaca que houve procura até de
investidores da América do Sul.
Petrobrás
A maior procura dos estrangeiros foi nos papéis emitidos na
quarta-feira pela Petrobrás. A demanda chegou a US$ 27 bilhões, um
recorde para uma empresa da América Latina. Mas outras companhias também
tiveram forte procura. O Banco do Brasil, que emitiu US$ 1 bilhão,
tinha reserva de US$ 6 bilhões. No Itaú, que lançou US$ 500 milhões, o
apetite chegou a US$ 4 bilhões.
“O mercado externo reabriu para o Brasil, especialmente para bons
nomes”, destaca Renato Ejnisman, diretor do banco Bradesco BBI. No
começo de janeiro, o Bradesco percebeu que haveria espaço para captar lá
fora e, ante o forte interesse, resolveu aumentar sua emissão, de US$
500 milhões para US$ 750 milhões. A procura chegou a US$ 2 bilhões. Com
isso, a taxa paga aos investidores ficou no piso do proposto, em 4,5% ao
ano.
Com a forte procura por papéis de empresas de primeira linha, com
classificação de risco de grau de investimento, companhias sem essa nota
perceberam que havia espaço para emissões. São as chamadas “high
yield”, que oferecem retorno maior para os investidores.
A empresa de alimentos JBS foi a primeira sem grau de investimento a
ir a mercado, e fechou no final de janeiro uma captação de US$ 700
milhões. A ideia inicial era lançar US$ 400 milhões, mas, com demanda de
US$ 3,7 bilhões, a emissão foi aumentada. Para o JBS, isso foi “um
claro sinal de confiança de mercado”.
Operações
Várias empresas brasileiras estão atualmente no mercado externo
buscando recursos. Segundo fontes, a Votorantim Cimentos conseguiu
captar ontem US$ 500 milhões. O grupo de açúcar e álcool Virgolino de
Oliveira anunciou uma captação de US$ 300 milhões. O frigorífico Minerva
planeja lançar US$ 300 milhões. O Grupo Farias, produtor de açúcar e
etanol, está com uma emissão que também pode chegar a US$ 300 milhões.
Para especialistas, há espaço até para operações de menor porte, como a
da Cimentos Tupi, que busca US$ 50 milhões.