A crise da Argentina, que já vinha atingido em cheio as exportações brasileiras, está produzindo um estrago ainda maior para, pelo menos, 10 empresas nacionais com negócios no país vizinho. Segundo fontes do mercado, companhias argentinas do setor automobilístico se queixam de que há mais de 10 dias não recebem dólares para pagar importações. No total, elas já acumulam um débito de US$ 2,5 bilhões com fornecedores estrangeiros, boa parte deles do Brasil. Somente a Fiat teria um crédito de U$ 600 milhões a receber de sua congênere argentina.
O presidente da Câmara de Comércio Argentino-Brasileira de São Paulo, Alberto Alzueta, evitou falar em números e citar nomes, mas confirmou que montadoras e fabricantes de autopeças são os principais prejudicadas. “Alguns empresários associados já reclamaram de atrasos. Outros casos, a gente fica sabendo. O Banco Central da Argentina tem bloqueado os pagamentos das operações de câmbio para evitar a saída de dólares para o Brasil, que é um dos principais parceiros comerciais da Argentina”, disse.
O calote de US$ 2,5 bilhões acumulado até agora corresponde a pouco mais de 10% do total exportado pelo Brasil ao país vizinho no ano passado. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) disse que não recebe informação com esse nível de detalhe das montadoras associadas. A entidade informou apenas que seus especialistas em comércio exterior não poderiam confirmar os valores em atraso por se tratar de um “dado confidencial das empresas”.
A Fiat, por sua vez, negou ter recebimentos em aberto, mas informou que a unidade brasileira vem reduzindo as exportações para o país vizinho ao mesmo nível das importações. Assim, evita problemas no recebimento de valores em espécie. “Estamos exportando o mesmo que importamos para equalizar a balança”, disse uma fonte da companhia.
De janeiro a julho, as exportações nacionais de carros e veículos comerciais leves da marca italiana para a argentina encolheram 28% em relação ao mesmo período de 2013, totalizando 25.150 unidades. As demais marcas instaladas no país há mais tempo — General Motors, Volkswagen e Ford — não deram resposta até o fechamento desta edição.
O país vizinho ainda é o maior destino de veículos e peças automotivas fabricadas no país. Alzueta informou, no entanto, que aumentaram as queixas sobre a demora para conseguir as autorizações da Declaração Jurada Antecipada de Importação (Djai), exigência criada pelo governo da presidente Cristina Kirchner para dificultar a compra de produtos no exterior. “Os pagamentos começaram a atrasar no mês passado. Alguns acabam saindo, mas em ritmo muito lento. Recebe quem reclama mais”, disse.