O Brasil finalmente terá acesso a fundos de índices estrangeiros, como o do Standard & Poor’s 500 da Bolsa de Nova York, uma das aplicações de menor custo e de maior apelo para o pequeno investidor. A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) iniciou discussões para regulamentar a negociação dessas aplicações diretamente na BM&F Bovespa.
Com esses fundos, o investidor brasileiro poderá se beneficiar de eventuais ganhos do mercado acionário estrangeiro, sem retirar dinheiro do país, como ocorre na maioria das economias maduras do mundo.
Hoje, apenas o investidor brasileiro com mais de R$ 1 milhão para aplicar tem acesso a fundos dedicados integralmente a papéis estrangeiros. Fundos de varejo já podem investir 20% em ativos no exterior.
Segundo Luciana Dias, superintendente de desenvolvimento de mercados da CVM, a ideia é permitir que o pequeno investidor de varejo aplique nesses fundos diretamente na Bolsa, como já pode fazer com os fundos de índice nacionais.
“Esse produto é interessante ao investidor de varejo. São produtos fáceis de entender, bastante transparentes e negociados em Bolsa. A CVM vê com bons olhos esses fundos”, disse.
A superintendente da CVM afirmou que as regras atuais dos fundos de índice terão de ser adaptadas para permitir as negociações de fundos com ativos estrangeiros. A expectativa é que o assunto vá para audiência pública, após o aprofundamento das discussões na CVM.
Conhecidos com ETFs (fundos negociados em Bolsa), esses fundos de índice têm gestão eletrônica e cobram taxa de administração de menos de cerca de 0,5% ao ano -no Brasil, a maioria das taxas de administração dos bancos varia de 2% a 4%, o que consome grande parte dos ganhos do investidor.
A entrada desses fundos no Brasil teve forte oposição dos bancos e de gestores de investimento. A BM&F Bovespa negocia sete ETFs nacionais.
Nos EUA e na Europa, esses fundos viraram uma febre e mudaram a forma como o pequeno investidor se relaciona com a Bolsa. Em alguns mercados, chegam a movimentar mais de 30% dos negócios diários da Bolsa.
Para Daniel Gamba, diretor-executivo para a América Latina da gestora BlackRock, há espaço no Brasil para negociação de fundos de índices estrangeiros. A BlackRock comprou, em 2009, a Barclays Capital, dona dos ishares, a maior plataforma de ETF do mundo.
“Os investidores e os bancos brasileiros ainda estão aprendendo os benefícios dos ETFs.”
Na Bolsa do México, esses fundos respondem por cerca de 40% do volume diário de negócios. O México tem 114 fundos de índices estrangeiros -incluindo o de ações brasileiras, que não existe no Brasil- e apenas 12 de índices locais.
Além dos fundos de índices estrangeiros, o BlackRock quer trazer ao Brasil fundos ETF de renda fixa e de commodities. Segundo Gamba, a gestora já procurou instituições do mercado brasileiro para criar fundos de renda fixa, com índices como o CDI.
Apesar de o brasileiro ainda não negociar ETFs “estrangeiros”, o pequeno investidor dos EUA, Europa e México conhece bastante os fundos de índices brasileiros. Desde 2005, a Bolsa de Nova York negocia o MSCI Brazil, o índice de ações emergentes do banco Morgan Stanley. O fundo se tornou um dos mais populares do mundo e chega a girar quase US$ 2 bilhões por dia -quase a metade do volume da BM&F Bovespa.