O comércio bilateral entre o Brasil e a Argentina cresceu 177,89% entre 2009 e 2010 por meio do Sistema de Moeda Local (SML). De acordo com os dados do Banco Central (BC), as exportações brasileiras para o país vizinho subiram 178,53% na análise do mesmo período, ao marcarem R$ 453,487 milhões em 2009 e R$ 1,263 bilhão no ano passado.
Segundo especialistas em comércio exterior, o valor obtido nas operações de SML corresponde a 8% do valor total do comércio bilateral dos países. Contudo, a projeção é que este porcentual praticamente dobre em 2011 e marque entre 12% e 15%.
“Em 2011 teremos um comércio maior por meio do SML, em torno de 15%. Um valor certo para as exportações é impossível. Esse ano nossa meta é divulgar principalmente para o mercado automotor, que ainda utiliza pouco o incentivo e com isso aumentemos o comércio sem utilizar o dólar”, declarou com exclusividade ao DCI o presidente da Câmara de Comércio Brasil – Argentina, Alberto Alzueta.
“Durante este ano o SML entre os países deve crescer mais do que os quase 180% que cresceu entre 2009 e 2010, o valor é uma incógnita pois temos variáveis como preço de produtos e quantidades comercializadas. Mas, neste ano vamos marcar 12% de SML frente ao comércio bilateral, com certeza. O governo de Dilma Rousseff terá foco nos problemas técnicos e não haverá um aumento maior por conta disso, ela irá priorizar o comércio exterior, mas a técnica dele e não os meios”, disse o diretor presidente do Grupo Baska, Luiz Ramos.
O número de operações por parte dos empresários brasileiros (3.410) é muito superior às operações por parte dos empresários argentinos (41) na utilização do Sistema. A explicação dos especialistas é a divulgação de forma diferenciada nos países, a transferência de empresas da Argentina para o Brasil que elevou o número de exportações e reduziu o montante importado pelo país vizinho e a falta de confiança.
“No caso do Brasil o SML foi mais divulgado, a Câmara fez várias ações voltadas a este sistema, porém ainda temos que aumentá-lo, promover a utilização do SML para ficarmos menos vulneráveis ao dólar e ao euro. Outro fator que impede é a falta de confiança no sistema, que é mais seguro e previsível, o importador tem a certeza do valor a receber e a pagar e com isso pode elevar o comércio bilateral, o que se torna mais vantajoso”, aponta Alzueta.
“Outra razão para o recorde no uso do SML pode ocorrer devido as facilidades dos importadores e dos exportadores pagar e receber, em suas respectivas moedas, mas o fator principal é que muitas empresas optaram pelo Brasil, ou seja, transferiram suas fábricas e polos produtores para o País e continuaram vendendo na Argentina, onde produzir está mais caro. A escolha do SML atrela uma vantagem para o Brasil a nível de moeda, ou seja o Real está mais forte que o Peso. Apesar que isto ainda não está muito bem assimilado pelo mercado”, frisa Ramos.
Questionados sobre o SML ser um possível passo para a constituição de uma moeda única para o bloco econômico, ambos disseram que este é o primeiro passo, mas deve ser tomado com cautela para não ocorrer o mesmo que acontece na União Europeia, no qual, cada país perdeu a volatilidade da sua moeda e sofreu perdas com a crise mundial por conta da utilização do euro.
“É mais interessante usar a nossa moeda do que ter uma moeda única. Para não engessar a economia do bloco. Contudo, a medida que existe um volume de comércio que justifique o uso de operações com uma moeda única, o SML poderá ser um princípio. Vale a pena analisar com mais cuidado, pois, pode se mostrar um caminho diferente e positivo”, ressalta Alzueta.