Enquanto o comandante do Corpo de Bombeiros, coronel Guido Pedroso Melo, evita explicar como a corporação forneceu alvará para a Kiss, um oficial da cúpula da Brigada Militar é taxativo: a boate onde 237 pessoas morreram no incêndio no em 27 de janeiro, a maioria intoxicada, nunca poderia ter sido aberta.
— Esse relatório de inspeção não é um PPCI (Plano de Prevenção de Combate a Incêndio). Isso todo mundo sabe. E, se não tem PPCI, não se pode emitir alvará dos bombeiros — afirmou no domingo o subcomandante-geral da Brigada Militar, coronel Silanus Mello.
Na edição impressa de domingo, Zero Hora revelou que um mero relatório de inspeção, sem responsável técnico, foi transformado em plano de prevenção pelos donos da Kiss. Com base nele, o Corpo de Bombeiros emitiu um alvará de Prevenção e Proteção Contra Incêndio.Mesmo sem antecipar detalhes do Inquérito Policial Militar aberto para apurar supostas irregularidades na concessão do alvará, o oficial afirma que o emprego de um simples relatório de inspeção não pode ser interpretado como um plano de combate a incêndio por quem assina o alvará, documento chave para que um estabelecimento consiga o alvará final da prefeitura.
— É um papel com recomendações gerais. Não traz informações específicas sobre a casa, que exige um PPCI completo. Ali não pode ser nem o modelo simplificado, pois é casa noturna — explica Silanus, que atuou também no Corpo de Bombeiros antes de ir para o policiamento ostensivo.
Nas horas que se seguiram ao incêndio, descobriu rapidamente que o alvará dos bombeiros estava vencido. Agora, uma semana depois, sabe-se que ele nunca deveria ter sido emitido.
Após a tragédia, a Brigada Militar quer saber se o uso de documentos inadequados é uma prática disseminada pelo Estado. Conforme o coronel Silanus, um grupo de técnicos da corporação se reunirá nesta semana com o comando-geral para delinear a radiografia que deve ser feita nos 11 comandos regionais de bombeiros. Procedimentos de vistoria e emissão de alvarás serão revissados.
— Nos reuniremos com os comandantes regionais para, se for o caso, repassar novas orientações — confirmou o coronel.