O JBS informou nesta quarta-feira, 18, aos investidores que vai
realizar um aumento de capital de até R$ 3,479 bilhões para acomodar a
conversão das debêntures que pertencem ao Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em ações. A operação começa a
esclarecer as dúvidas que pairam sobre o envolvimento da empresa com o
banco estatal.
Com o negócio, a participação da FB Participações, que pertence à
família Batista, será diluída, mas a holding não perderá o controle da
companhia. O porcentual da FB passará de 54,32% para 47%. A BNDESPar,
braço de participação em empresas do BNDES, aumentará sua fatia de 17%
para 31%. Os minoritários passam de 25,2% para 21,7%.
A conversão das debêntures do BNDES em ações será feita com o preço
de R$ 7,04 por ação, que é o valor médio ponderado dos últimos cem
pregões antes de 31 de dezembro de 2010. A previsão é concluir o
processo até cinco de julho.
Essa operação é necessária por conta de um polêmico empréstimo de R$
3,5 bilhões que o BNDES concedeu ao JBS para a compra da americana
Pilgrim’s em setembro de 2009. Com a aquisição, o JBS se tornou o maior
frigorífico do mundo. O empréstimo foi feito via compra de debêntures
(dívida) conversíveis em ações.
O plano original previa que a JBS USA abrisse o capital no mercado
americano no prazo de um ano, concedendo ao BNDES 20% a 25% dessa
empresa. Se isso não ocorresse, o BNDES teria direito a converter os
papéis em ações do JBS no Brasil.
Com o mercado americano retraído, a empresa não abriu capital nos
EUA, pagou multa de R$ 521 milhões ao BNDES no final de 2010 e ganhou o
direito de esperar mais um ano. Ontem, surpreendeu o mercado convertendo
as debêntures antes do prazo.
As ações foram castigadas com uma queda de 5% ontem, para R$ 5,48.
Foi uma das maiores perdas do Ibovespa. Os investidores tinham duas
dúvidas: o tamanho da perda para os minoritários, que serão diluídos, e
se isso significa um comprometimento menor do BNDES com o JBS.
Apesar de ter elevado sua participação imediata na empresa, o banco
estatal agora está “líquido”. Ao contrário das debêntures, que quase não
têm mercado, o BNDES pode vender as ações. Os sinais, no entanto, são
de que o banco não fará movimentos bruscos que prejudiquem o valor do
seu investimento.
“Esse aumento de capital é importante. Tira as incertezas que o
mercado tinha sobre uma possível abertura de capital da JBS USA e nos
permite rebalancear e reestruturar nossa estrutura de capital”, disse
Wesley Batista, presidente da empresa, em teleconferência com analistas.
Riscos. Segundo fontes ouvidas pelo Estado, o BNDES
mitigou seus riscos com a operação de ontem. O banco poderia perder
dinheiro com uma abertura de capital mal sucedida do JBS nos EUA. Além
disso, havia uma chance as ações subirem até o fim do ano (como indicam
os relatórios dos bancos), o que significaria menos participação na
empresa para o BNDES.
Pelo contrato, o BNDES poderia converter suas debêntures entre R$
6,50 e R$ 12,50 por ação. O valor escolhido – R$ 7,04 – está mais
próximo do limite inferior, embora acima dos R$ 5,48 do fechamento de
ontem.
Para o JBS, o negócio faria sentido para promover um rebalanceamento
da dívida e esclarecer as dúvidas do mercado. “As ações estavam sendo
penalizadas por todas as incertezas que rondavam a empresa. Hoje,
eliminamos dúvidas em relações às debêntures”, disse Batista.
Sem o BNDES como potencial “sócio” da JBS USA, a empresa poderá
transferir parte de suas dívidas no Brasil para a filial americana,
gerando economias de impostos e despesas financeiras que não foram
reveladas. A companhia já começou esse processo e pretende emitir US$
2,2 bilhões em dívidas no exterior.
No final de 2010, o JBS anunciou que estava negociando com o BNDES
uma segunda emissão de debêntures de R$ 4 bilhões por cinco anos – o que
deixaria o banco estatal “preso” ao grupo nesse período. Essa
alternativa foi abandonada. A justificativa do JBS é que geraria R$ 340
milhões em despesas financeiras.