Bernard Madoff poderá enfrentar a prisão pelo resto de sua vida por ter operado um gigantesco esquema de pirâmide que teve início há pelo menos 20 anos e que consumiu bilhões de dólares de propriedade de outras pessoas. Embora o destino de Madoff não esteja claro até que sua sentença seja decretada, seu advogado disse a um juiz federal na terça-feira que o gestor pretendia se declarar culpado, hoje, perante todas as acusações de crimes que os promotores federais registraram contra ele – uma lista que pode gerar uma sentença de prisão de 150 anos.
Madoff foi preso em 11 de dezembro em sua residência em Manhattan por agentes federais que o acusaram de orquestrar talvez a maior fraude da história de Wall Street. O esquema de pirâmide se espalhou pelo mundo todo, amealhando bancos estrangeiros, fundos hedge, instituições de caridade, celebridades e pessoas comuns aposentadas que entregaram suas economias para essa empresa de investimentos.
As acusações, divulgadas publicamente na terça-feira, ofereceram alguns novos detalhes sobre como Madoff conduziu sua fraude de longa existência. E aumentaram o valor que o próprio Madoff estimara em US$ 50 bilhões, para quase US$ 65 bilhões, o montante total que centenas de clientes ouviram dizer que possuíam em suas contas na empresa.
Entretanto ficaram sem resposta as perguntas sobre o envolvimento de membros da família Madoff e de empregados na fraude, assim como sobre o tratamento dispensado a investidores especiais.
Transações bancárias
Para sustentar sua farsa, disseram os promotores, Madoff reuniu uma equipe administrativa mal treinada e inexperiente, direcionou-a para “gerar documentos fraudulentos”, mentiu e forneceu registros fictícios para os órgãos reguladores, movimentando centenas de milhões de dólares de banco para banco, a fim de criar a ilusão de estar negociando ativamente. O governo disse que Madoff ordenou transferências bancárias multimilionárias em parte “para dar a impressão de que gerenciava transações de valores mobiliários na Europa a favor dos investidores quando, na realidade, não fazia nada disso.”
E, em uma acusação que estende a abrangência de seu crime para seus negócios secundários nos quais seu irmão e filhos trabalhavam, os promotores alegaram que Madoff usava parte do dinheiro que conseguia por meio de sua pirâmide financeira para sustentar as supostamente legítimas operações acionárias no atacado que o tornaram famoso em Wall Street.
Especificamente, os promotores disseram que Madoff “fez com que mais de US$ 250 milhões” que captou por meio do esquema de pirâmide financeira a partir de pelo menos 2002 até o final de 2008, “fossem direcionados, por meio de uma série de transferências eletrônicas, para as contas que custeavam as operações desses negócios.” O governo também o acusou de transferir recursos de seus escritórios em Londres “para comprar propriedades e serviços para uso pessoal e benefício” próprio, de membros de sua família e associados.
Por fim, os promotores alegaram que Madoff realmente prometeu para um grupo seleto de clientes retornos extraordinariamente altos, de até 46%, a fim de atraí-los. No total, Madoff recebeu 11 acusações de crimes, incluindo fraude com valores mobiliários, lavagem de dinheiro e perjúrio. Sob os parâmetros federais de sentenças, esses crimes poderão deixar o financista de 70 anos de idade na cadeia pelo resto de sua vida.
Dezenas de correspondências privadas já chegaram ao tribunal, muitas similares a uma carta de um homem da Califórnia que incitou o juiz a encarcerar Madoff “pelo resto de sua vida, e nas condições que merece a pessoa que destruiu tantas outras.”O governo ainda não deu indicações se qualquer membro da família de Madoff tinha conhecimento de sua fraude ou se participou dela. Todos os advogados de seus parentes disseram que seus clientes nada sabiam sobre as mentiras até a confissão de Madoff. Ao contrário, muitos deles perderam milhões de dólares por confiar no esquema.