O Banco Central espera um rápido ajuste no balanço de pagamentos em 2009. A projeção oficial é um déficit em conta corrente de US$ 16 bilhões, que, se confirmado, significará queda de 43,5% em relação aos US$ 28,3 bilhões observados no ano passado. Em proporção ao Produto Interno Bruto (PIB), o déficit recuaria de 1,8% para 1,14%. Mas, mesmo com o déficit menor, ainda será necessário usar dólares das reservas internacionais para as contas externas fecharem.
Ontem, o BC divulgou, dentro de sua nota do setor externo, as suas estimativas oficiais para o balanço de pagamentos de 2009, que servem de base para as projeções de inflação e de crescimento da economia do relatório trimestral de inflação, que será publicado na próxima segunda-feira.
Sua estimativa para o déficit em conta corrente em 2009, de US$ 16 bilhões, é mais otimista do que a do mercado financeiro, que calcula resultado negativo de US$ 24,7 bilhões no ano, segundo a pesquisa Focus do BC, que coleta as expectativas de cerca de cem analistas econômicos. O BC também se tornou mais otimista em relação à sua projeção anterior, feita em dezembro, que previa um déficit em conta corrente de US$ 25 bilhões.
O déficit em conta corrente mede quanto o país gasta além das suas receitas nas suas principais transações comerciais (exportações e importações), de serviços (como turismo e fretes) e rendas (pagamentos de juros da dívida externa e remessas de lucros e dividendos) com outras economias. Quanto maior o déficit, mas capital estrangeiro o país deve atrair para fechar as contas, sob a forma de investimentos (diretos, em ações ou renda fixa) ou empréstimos.
Dois fatores principais, na visão do BC, vão contribuir para reduzir o déficit. Um deles é a queda nas remessas de lucros e dividendos, que cairia de US$ 33,875 bilhões para US$ 15 bilhões entre 2008 e 2009. “As empresas anteciparam suas remessas em 2008 para cobrir prejuízos em suas matrizes localizadas no exterior”, diz o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. “As remessas também devem cair em virtude do nível de atividade doméstica mais fraco, que reduz os lucros, e da desvalorização do real.”
Outro fator que deve contribuir para a melhora das contas é a redução do déficit em viagens internacionais, que, segundos cálculos do BC, cairá de US$ 5,177 bilhões para US$ 2,5 bilhões entre 2008 e 2009. Os brasileiros tendem a viajar menos em virtude da crise, que contém a expansão da renda, e da valorização do dólar, que encarece as despesas no exterior.
O fator negativo nas contas correntes é a redução do superávit comercial, de US$ 24,746 bilhões para US$ 17 bilhões entre 2008 e 2009, segundo as contas do BC. O mercado financeiro está um pouco mais pessimista, com projeção de superávit comercial de US$ 13,02 bilhões. Para o BC, a economia mundial irá crescer menos em 2009, o que reduz em 20% as receitas de exportações, que somariam US$ 158 bilhões em 2009. Já as importações teriam recuo de 18,5%, para US$ 141 bilhões, devido à demanda doméstica mais fraca.
Pelas contas do BC, o fluxo de capitais estrangeiros ao país deverá ser insuficiente para cobrir as necessidades de dólares neste ano, que, além do déficit em conta corrente, incluem as amortizações da dívida externa previstas para esse ano (US$ 24,6 bilhões) e a repatriação esperada de investimentos estrangeiros em ações e renda fixa (US$ 10 bilhões). Os cálculos são de que, tudo considerado, o mercado de câmbio seja deficitário em US$ 6,2 bilhões neste ano. Em tese, essa diferença pode ser coberta de duas formas: ou o BC usa suas reservas internacionais para injetar recursos no mercado de câmbio ou os bancos trazem ao Brasil parte de seus dólares mantidos sob a forma de depósitos no exterior.
Nas suas projeções, o BC assume a premissa de que as empresas privadas vão rolar 75% da dívida externa com vencimento em 2009. Se ficar abaixo disso, a falta de recursos no mercado será maior. No primeiro bimestre deste ano, a rolagem foi de 54% e, em março, até o dia 24, a taxa recuou para 44%. A tendência é que esses percentuais aumentem até o fim do ano, em razão da linha em crédito em moeda estrangeira criada pelo BC com recursos das reservas para ajudar as empresas a rolarem suas dívidas externas.