O Banco Central Europeu (BCE) evitou ontem um novo castigo contra a dívida soberana de Portugal e, por extensão, da Espanha. Segundo fontes do mercado, a autoridade monetária da União Europeia (UE) voltou a comprar bônus do Tesouro português, para aliviar a pressão sobre os juros que os investidores estavam exigindo pelos papéis. Graças à intervenção, os prêmios de risco exigidos aos dois países — o ágio que têm que pagar para rolar suas dívidas frente à taxa paga pela Alemanha, referência do mercado — foram contidos.
As incertezas quanto à situação fiscal de países como Portugal e Espanha mexeram com os mercados em todo o mundo. Mas a intervenção do BCE ajudou a acalmar os investidores, limitando as perdas. Uma autoridade sênior da zona do euro disse no domingo que Alemanha, França e outros países do bloco estão pressionando para que Portugal solicite um programa de assistência da UE e do Fundo Monetário Internacional (FMI), a exemplo do que fizeram Grécia e Irlanda. A ajuda seria entre C 50 bilhões e C 100 bilhões, segundo a fonte. A pressão é para evitar um contágio à Espanha, quarta maior economia do bloco.
Espanha fará emissão de dívida na quinta-feira
Após a intervenção do BCE, o prêmio pago por Portugal recuou oito pontos, para 414 pontos centesimais, depois de ter alcançado 430 pontos no início da manhã. Em novembro, no auge da crise da Irlanda, chegou a 459 pontos. Já a rentabilidade dos papéis de dez anos passou de 7,3% para 7%. Foi neste nível que disparou o alarme sobre o resgate irlandês. Mas o caso de Portugal é distinto do da Grécia, que camuflou suas estatísticas, ou frente à Irlanda, que tem um grave problema com seus bancos.
Quanto à Espanha, que na quinta-feira fará sua primeira emissão de dívida do ano, o prêmio de risco se situou em 267 pontos básicos, três a mais que o fechamento de sexta-feira e depois de chegar a 270 no início da sessão. A rentabilidade dos papéis ficou em 5,522%.
Mais rápidas em sua reação, as principais bolsas europeias registraram queda. Em Londres, o índice FTSE perdeu 0,47%; em Frankfurt, o DAX caiu 1,31%; e em Paris, o CAC-40 recuou 1,64%. Em Madri, o Ibex- 35 perdeu 1,29%; e o PSI20, em Lisboa, 1,6%. O euro, por sua vez, fechou cotado a US$ 1,29. Nos EUA, com fuso horário mais favorável, a ação do BCE conseguiu acalmar os mercados. O Dow Jones fechou com leve perda de 0,32%, a 11.637,45 pontos. O S&P 500 recuou 0,14%, a 1.269,75 pontos. E o Nasdaq fechou com alta de 0,17%, a 2.707,80 pontos.
Bovespa se recupera no fim do pregão
Com o aumento da aversão a risco provocada pela crise em Portugal, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) chegou a recuar ontem 0,56% pelo Ibovespa, índice de referência do mercado brasileiro. Mas, no fim do pregão, um alta das ações da Petrobras deu novo fôlego ao índice, que fechou com alta de 0,10%, aos 70.127 pontos. Os papéis foram influenciados pela alta do barril de petróleo. As ações preferenciais (PN, sem direito a voto) avançaram 0,94%, a R$ 26,98.
Apesar dos rumores, a Comissão Europeia, braço executivo da UE, negou ontem que esteja trabalhando num eventual resgate para Portugal.
— Não temos nem previsão de ter discussões sobre tal eventualidade, seja Portugal ou outro Estado-membro — disse Amadeu Altafaj, portavoz da Comissão Europeia.
Apesar disso, a agência Reuters insistiu que um alto executivo da zona do euro garante que Alemanha e França estão pressionando Portugal para que aceite ajuda para conter a crise e evitar um contágio a outros países. Além da Espanha, Itália e Bélgica estariam vulneráveis a um contágio.
— França e Alemanha indicaram no contexto da zona do euro que Portugal deveria solicitar ajuda mais cedo do que tarde — disse a fonte à agência Reuters, que acrescentou que Finlândia e Holanda compartilham essa posição.