A investigação também denuncia práticas de optimização fiscal de multinacionais na Espanha, Argentina, El Salvador, Chile, República Dominicana, México e Panamá.
Por exemplo, na Argentina são acusados desta prática a filial local do Bradesco e da Yamana Gold, uma produtora de ouro canadense.
No México estão envolvidas grupos financeiros como a Paul Capital e a Startwood Capital e empresa americana de logística FedEx.
Na Espanha, aparecem Burberry, HSBC, Pepsi, Carlyle e AIG, entre outras.
Em sua investigação, que durou seis meses e foi batizada de “Luxembourg Leaks” ou “LuxLeaks”, o ICIJ teve acesso a 28.000 páginas de documentos de “tax ruling”, que mostram como as grandes empresas “se apoiam em Luxemburgo e suas flexíveis regras fiscais, como também ficam em evidência as deficiências da regulamentação internacional quanto à transferência de lucros com a finalidade de que não sejam tributados, ou sejam mais suavemente”, assinala o Le Monde.
A prática do “tax ruling”, que é legal, permite a uma empresa solicitar de antemão informações de como será tratada sua situação fiscal pela administração de um país, e obter garantias jurídicas.
Os grupos envolvidos – são citados, em particular, Apple, Amazon, Verizon, AIG, Heinz, Pepsi, Ikea e os franceses Axa e Crédit Agricole – conseguem assim bilhões de euros por ano graças à criação de uma filial, de uma holding ou com o deslocamento de sua sede social para o território do grão-ducado. O objetivo: pagar o menos possível em termos de impostos.
“Luxemburgo mantém os acordos fiscais em segredo e não os notifica a seus sócios europeus”, apesar de que, “de fato, estão a par por meio de suas próprias multinacionais sobre esta estratégia para evitar impostos”, prossegue o jornal francês.
Os documentos obtidos pelo ICIJ foram estabelecidos entre 2002 e 2010 pela PricewaterhouseCoopers, “que os redigiu e negociou os termos com a administração luxemburguesa”, acrescenta a fonte.
A Comissão Europeia (CE) abriu em junho quatro investigações sobre a prática fiscal do “tax ruling”, que envolvem quatro Estados membros.
Uma diz respeito à Irlanda e trata de acordos entre a administração fiscal deste país e o gigante americano da informática Apple, sob suspeita de ter se beneficiados de um acordo contrário às regras de concorrência europeias.
Outra está vinculada a suspeitas sobre vantagens fiscais acertadas pela Holanda com a rede de cafeterias Starbucks.
A terceira trata de acordos entre Luxemburgo e a Fiat Finance and Trade, que oferece serviços de gestão administrativa ao grupo automotivo Fiat. A última, aberta em outubro, envolve Gibraltar.
Segundo um porta-voz de Jean-Claude Juncker, atual presidente da Comissão Europeia e primeiro-ministro luxemburguês entre 1995 e 2003, a instituição está disposta a punir Luxemburgo se estes acordos secretos constituírem ajudas estatais ilegais.
“Se houver uma decisão negativa, Luxemburgo deverá assumir e empreender ações corretivas”, indicou à AFP Margaritis Schinas.
Já o primeiro-ministro luxemburguês, Xavier Bettel, assegurou nesta quinta-feira que os acordos fiscais com empresas multinacionais para pagamento de menos impostos “estão conformes à lei de legislação internacional”.
Esse tipo de acordo fiscal “não é uma especialidade de Luxemburgo, muitos outros países a praticam”, indicou, por sua vez, o ministro das Finanças, Pierre Gramegna.
“O ‘tax ruling’ oferece certeza e previsibilidade às empresas sobre a maneira com que será tratada fiscalmente uma operação”, acrescentou, enfatizando que corresponde, além disso, aos “padrões comunitários e aos da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômicos(OCDE)”.