A inflação está sob controle, as pressões por aumentos de preços são limitadas, a atividade econômica está sendo retomada de forma paulatina e, por essas razões, a taxa básica de juros (Selic), atualmente fixada em 8,75% ao ano, não deverá ser alterada no curto prazo. O diagnóstico consta da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), divulgada ontem.
O documento diminui as expectativas de aumento da taxa Selic no próximo encontro do Copom, agendado para os dias 26 e 27 de janeiro. Por outro lado, sinaliza que não há espaço para novas reduções de juros, ao contrário do que vinha defendendo a equipe do Ministério da Fazenda, e avalia que os estímulos monetários e fiscais adotados ao longo deste ano ainda vão produzir efeitos na evolução da atividade econômica.
A ata diz que a política monetária terá de ser “cautelosa” daqui em diante para assegurar que a inflação permaneça em torno da meta – 4,5% para 2010 e 2011. O termo “cautelosa” indica que, diante da reversão da expectativa de inflação nos próximos meses, o Copom poderá elevar o juro mais adiante. Na avaliação do Comitê, porém, ainda há ociosidade na indústria, apesar da alta ocorrida no uso da capacidade instalada nos últimos meses, e margem para recuperação do emprego.
“O Copom avalia que, diante da margem de ociosidade remanescente na economia, evidenciada por indicadores de utilização da capacidade na indústria e do mercado de trabalho, e do comportamento das expectativas de inflação para horizontes relevantes, continuaram favoráveis as perspectivas de concretização de um cenário inflacionário benigno, no qual o IPCA seguiria exibindo dinâmica consistente com a trajetória das metas”, diz a ata.
“A propósito, essa evolução do cenário prospectivo continua se manifestando nas projeções de inflação consideradas pelo Comitê. Nessas circunstâncias, visando preservar a melhora da trajetória inflacionária prospectiva, em cenário macroeconômico que contém incertezas importantes, o Copom avalia que a política monetária deve manter postura cautelosa, com vistas a assegurar a manutenção da convergência da inflação para a trajetória de metas”, acrescenta o texto.
O economista-chefe do Itaú-Unibanco, Ilan Goldfajn, ex- diretor do BC, concorda que a ata diminuiu “consideravelmente” a aposta “minoritária” na elevação da Selic em janeiro, mas deixou aberta a possibilidade de aumentos a partir da reunião de março ou abril. “Mantemos nosso cenário de elevação da Selic em 275 pontos básicos (2,75 pontos percentuais) em 2010, começando na reunião de março”, disse Ilan, ontem, no boletim “Macro Brasil”.
A ata diz que o cenário internacional, de recuperação lenta e gradual da atividade econômica, segue sendo, até o momento, benigno para a inflação. Há, no entanto, incertezas relacionadas à expansão de liquidez nas economias ricas, com reflexos sobre os preços de ativos e commodities. Os diretores do BC não se mostram preocupados, contudo, quanto à forte elevação de ativos ocorrida nos últimos meses. “O Comitê reafirma que movimentos específicos de preços de ativos só são relevantes para a política monetária na medida em que tenham algum impacto sobre a trajetória prospectiva para a inflação.”
Do ponto de vista doméstico, o Copom avalia que é “limitada” a probabilidade de que pressões inflacionárias localizadas afetem a trajetória da inflação. As pressões da demanda sobre os preços são, no curto prazo, moderadas. As expectativas de inflação para 2010 e 2011, por sua vez, estão dentro da meta. Por fim, afirma o documento, a pressão da demanda sobre os preços dos produtos não comercializáveis, como os serviços, também será “limitada” nos próximos trimestres.
Em entrevista ontem a rádios estatais, o presidente do BC, Henrique Meirelles, previu hoje que a economia brasileira crescerá mais de 5% em 2010. Ele deixou claro que o BC acompanhará de perto as pressões inflacionárias. “O BC sempre está alerta diante de possíveis riscos de inflação, pois existe sempre a possibilidade de que haja problemas na relação entre a capacidade de produção e o consumo”, afirmou.