O Brasil deveria enfrentar a crise internacional com um corte “importante” da taxa de juros. A recomendação, às véspera da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), partiu de uma fonte inesperada: Teresa Ter-Minassian, que trabalha há 37 anos no Fundo Monetário Internacional (FMI).
Como vice-diretora do Departamento do Hemisfério Ocidental, entre 1997 e 2000, Teresa liderou as negociações do Fundo com o Brasil, na época. Como toda autoridade do FMI, sempre pregou a austeridade fiscal e monetária. Teresa continua preocupada com essas questões mas a gravidade e amplitude da crise internacional provocou profundas mudanças até nos credos monolíticos do FMI.
O Brasil, segundo Teresa, é um dos raros países do mundo que ainda pode usar a política monetária para enfrentar a crise. Na maioria dos casos, os juros já estão perto de zero e a política monetária perdeu sua eficácia, disse Teresa, ontem, a convidados do Banco Fator. Só resta a saída do estímulo fiscal.
O Brasil está em situação diversa pois a política fiscal tem margem de manobra reduzida, mas há muito espaço para estimular a economia com o corte do juro. A taxa básica está em 12,75%. Segundo fontes do mercado, pode se reduzida em 1,5 ponto a 2 pontos hoje.
Ao avaliar a situação do Brasil na crise, a especialista afirmou que está sofrendo algum impacto com a queda do preço das commodities e aperto do crédito externo, “mas não tão forte como a maioria dos outros países emergentes”. De toda forma, prevê que a “taxa de crescimento do Brasil neste ano será bastante modesta”.
Teresa disse que a virulência da crise tornou questionáveis as previsões de crescimento para a economia mundial feitas há apenas dois meses. Em janeiro, o FMI previa que a economia mundial iria crescer 0,5% neste ano, puxada pela expansão de 1% da América Latina e 4,2% da Ásia, regiões que contrabalançariam a contração de 1,6% nos Estados Unidos, de 2% na zona do euro e de 2,6% no Japão. Mas o consenso internacional já é que a recessão será de 3,8% no Japão e de 2,1% nos Estados Unidos.
“Infelizmente nossas projeções devem ser reduzidas e a recuperação, esperada para o segundo semestre deste ano, adiada para 2010.” A previsão do FMI é de crescimento mundial de 2,1% em 2010.
Apesar de reconhecer que o estímulo fiscal é praticamente a única arma dos governos para enfrentar a crise, Teresa lembrou ser importante distinguir o estímulo por investimentos daquele com despesas de custeio e pessoal, que podem criar problemas futuros.
Teresa prevê que o impacto fiscal das medidas de estímulo nos países do G-20 será equivalente a 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB). No período de 2008 a 2010, o impacto totalizará 3,1% do PIB. Só no Brasil será de 0,6% do PIB em comparação com 4,9% nos Estados Unidos. Teresa ressaltou que essas medidas incluem as injeções de capital nos bancos, compra de ativos podres, empréstimos e apoio do Tesouro aos bancos centrais.
As garantias dadas a ativos não resultam em custo fiscal imediato como as anteriores, mas só aumentam o déficit e a dívida quando forem realizadas ou provisionadas, observou a especialista, que atualmente é assessora do diretor-gerente Dominique Strauss-Kahn. Teresa ia se aposentar em outubro por ter atingido os 62 anos. Por causa da crise, porém, a direção do Fundo quis continuar com sua colaboração, como assessora. Ao final de maio deve deixar definitivamente o organismo.
Fiel aos fundamentos do FMI, Teresa disse que os governos devem assegurar “o uso tempestivo e gradual da política monetária, quando a recuperação estiver certa”. Lembrou que o excesso de complacência monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) após o estouro da bolha da internet está na origem dos problemas da crise do subprime.
Também recomendou, assim que a crise passar, a reversão da propriedade pública dos bancos; o fortalecimento dos organismos de supervisão do sistema financeiro e o compromisso com a sustentabilidade da dívida a médio prazo.