O Mercosul, bloco criado há 23 anos, não é mais o principal sócio
comercial da Argentina. Isso é o que indicam os dados do Instituto
Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), que apontam os países da
Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean) – integrado pela
Indonésia, Malásia, Cingapura, entre outros – junto com a China, Coreia
do Sul, Japão e Índia como destinatários de 25% das exportações da
Argentina.
No mês passado o Mercosul foi responsável pelas
compras de 23,5% dos produtos argentinos enviados ao exterior. É a
primeira vez desde a fundação do bloco em 1991 que o Mercosul fica em
segundo posto no destino das exportações argentinas. A União Europeia,
que obteve o terceiro lugar, absorveu 12% das vendas argentinas.
O
bloco do cone sul também deixou de ter a pole position nos destinos das
importações feitas pela Argentina, já que do total de produtos
comprados pela Argentina, 23% vieram dos países da Asean, China, Coreia
do Sul, Japão e Índia. Outros 21,5% dos importados vieram do Mercosul e
19% dos países do Nafta. Segundo o Indec, em julho as exportações
argentinas para a China aumentaram 77% em comparação com o mesmo mês de
2013, enquanto as vendas da Argentina para o Brasil sofreram queda de
18%.
Os dados do Indec também indicam que as importações
argentinas de produtos brasileiros caíram 31% em julho, enquanto a
entrada de produtos chineses teve redução de 12%.
Protecionismo
Segundo
o ex-secretário de indústria Dante Sica, diretor da consultoria
econômica Abeceb, essa queda de status do Mercosul “deve-se a uma
bateria de fatores, entre eles o fato de que as economias da Argentina e
do Brasil estão desacelerando. E, dessa forma, o nível de comércio
diminui”. Mas, segundo Sica, o comércio entre a Argentina e os sócios do
Mercosul “também foi reduzido por causa da política de restrições às
importações implementada pelo governo da presidente Cristina Kirchner”.
Além
disso, afirma o economista, o governo argentino restringe o acesso aos
dólares, medida que complica as compras de produtos importados. “E, de
quebra, a Argentina tem problemas para conseguir financiamento no
exterior. O único país que está abrindo linhas de crédito é a China.”
No
entanto, segundo Sica, o deslocamento do Mercosul do primeiro posto no
destino das exportações argentinas não está vinculado a um plano do
governo Kirchner. “Não foi planejado. Simplesmente aconteceu. Mas
torna-se uma tendência.”
Nos últimos anos os produtos asiáticos
deslocaram gradualmente as mercadorias brasileiras no mercado argentino.
Entre os setores conquistados pelos asiáticos estão os de calçados,
eletrônicos, autopeças e bens de capital, além de artefatos elétricos.
No
Mercosul – na teoria – teria de predominar o livre-comércio. No
entanto, desde 2004 – e com mais intensidade desde 2009 – o governo
Kirchner aplica medidas protecionistas, especialmente contra seus sócios
do Mercosul, o que gera constantes reclamações do empresariado de
Uruguai, Paraguai e Brasil. Os governos em Assunção e Montevidéu também
protestam com frequência contras as barreiras argentinas, enquanto o
governo do Brasil assume posições mais benevolentes com o protecionismo.