Atingida por uma grave crise cambial, a Argentina suspendeu novamente o
fluxo de pagamento aos exportadores brasileiros e abriu um novo foco de
tensão com seu principal parceiro comercial. Há seis meses, Brasil e
Argentina enfrentaram a mesma situação.
Os atrasos levaram os
empresários dos setores mais prejudicados a pressionar o governo
brasileiro para encontrar uma solução urgente. A indústria
automobilística é a mais afetada justamente num momento em que enfrenta
problemas com o baixo crescimento doméstico.
Nas últimas duas
semanas, o problema se agravou. Autoridades econômicas e diplomáticas
tentam um acordo para retomar o fluxo de remessas dos pagamentos. A
indústria cobra uma posição mais dura de Brasília junto ao governo
argentino. Embora o maior problema esteja concentrado no setor
automotivo, outras indústrias são afetadas. O presidente da Associação
Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein, aponta,
além dos atrasos nos pagamentos, travas na liberação das licenças de
importação pelos argentinos.
Os empresários brasileiros
pressionam pela criação de uma linha de financiamento ao importador
argentino como garantia ao pagamento das empresas no Brasil. Essa opção,
discutida no primeiro semestre, foi abandonada por restrições colocadas
por Buenos Aires. O problema ressurgiu depois de um período de
estabilidade. Em Brasília, sabe-se que a Argentina sofre com a falta de
dólares, sobretudo neste período de fim da safra agrícola em que o país
vizinho registra uma queda significativa nas exportações.
Negociadores
brasileiros abriram conversas para tentar regularizar o fluxo de
pagamentos aos exportadores nacionais, mas fontes informaram ao jornal O
Estado de S. Paulo que há pouco otimismo. A falta de divisas na
Argentina impede até mesmo uma pressão muito forte do lado de cá da
fronteira. A situação pode reduzir ainda mais o fluxo comercial entre os
dois países.
Operação
Os importadores
argentinos de produtos brasileiros precisam depositar no Banco Central
do país os pesos para pagamento das suas compras. Os pesos são, então,
convertidos em dólares para pagamento das empresas brasileiras, o que
vem sendo atrasado porque o governo de Cristina Kirchner limita a saída
de moeda do país para tentar conter a queda das suas reservas.
Hoje,
a Argentina tem US$ 28,2 bilhões de reservas em moeda estrangeira, US$ 2
bilhões a menos do que no final de 2013 e quase US$ 9 bilhões a menos
do que há 12 meses.
Alberto Alzueta, presidente da Câmara de
Comércio Brasil-Argentina, diz que os argentinos só têm tido autorização
para comprar petróleo e gás (que consome US$ 15 bilhões por ano) e
medicamentos. Todos os demais produtos ficam em segundo plano. “O quadro
é bastante cinza, vai ficar negro.”
Uma fonte graduada do
governo informou que a presidente Cristina Kirchner tem tentado marcar
uma reunião bilateral com Dilma em Nova Iorque, em paralelo à reunião da
69ª Assembleia Geral da ONU. Mas Dilma resiste ao encontro a todo
custo. As reuniões de alto nível entre os dois países, que deveriam ser
trimestrais, estão esquecidas. A última ocorreu em janeiro. Durante a
crise do default argentino, Dilma defendeu os vizinhos, mas o Brasil
tem, na verdade, evitado se envolver diretamente.