Com a forte deterioração da atividade econômica e os repetidos sinais de que a inflação está comportada, aumenta o clamor entre bancos e consultorias por um corte de juros mais agressivo. Credit Suisse, Bradesco e Tendências Consultoria Integrada defendem uma redução de 1 ponto percentual dos juros na reunião de hoje do Comitê de Política Monetária (Copom). Segundo os analistas, os riscos de repasse da desvalorização do câmbio para os preços são bastante pequenos.
Os economistas do Credit Suisse acabaram de revisar a sua projeção do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 5% para 4,5% – o centro da meta de inflação perseguida pelo Banco Central (BC). O economista-chefe do Credit Suisse, Nílson Teixeira, projeta três cortes de 1 ponto nas três primeiras reuniões do Copom deste ano, marcadas para janeiro, março e abril, que derrubariam a taxa Selic para 10,75% ao ano.
\”A forte desaceleração da atividade e o balanço de riscos para a inflação mais favorável tornaram a opção de reduzir 0,75 ponto excessivamente gradual\”, afirmam os economistas do banco, em relatório. \”A resposta de política monetária apropriada é a de promover um ciclo de corte de juros ainda mais curto e de maior magnitude do que consideramos no nosso cenário base, com redução de, por exemplo, 1,5 ponto em janeiro.\”
Teixeira chama a atenção para o tamanho da desaceleração da economia. \”A contração do PIB no quarto trimestre de 2008 será mais expressiva do que a dos países desenvolvidos, incluindo os EUA\”, nota ele. O Credit Suisse estima que a variação do PIB em relação ao trimestre anterior, com ajuste sazonal, se reverterá de uma alta de 1,8% no terceiro trimestre para uma queda de pelo menos 1,9% no quarto. \”Essa será a maior retração desde o quarto trimestre de 1991\”, diz Teixeira, ressaltando, entre outros fatores, a forte deterioração da confiança dos empresários em novembro e dezembro e a piora das condições do mercado de trabalho, além da situação ainda restritiva do crédito.
Ele também destaca que as perspectivas para a inflação ficaram bem mais favoráveis. Segundo o Credit Suisse, a expectativa de desaceleração da demanda e o aumento do crescimento potencial (aquele que não causa pressões inflacionárias relevantes) nos últimos anos contribuíram para reduzir os riscos de alta dos índices de preços. \”A inflação no atacado e ao consumidor, bem abaixo das expectativas formuladas com algumas semanas de antecedência, confirma a avaliação de que o repasse para a inflação da significativa depreciação do câmbio será baixo nos próximos trimestres\”, diz Teixeira, lembrando o recuo das estimativas do mercado para o IPCA, que caiu de 5% para 4,8% na pesquisa mais recente divulgada pelo BC.
Os economistas do Bradesco também acreditam que haverá uma redução de 1 ponto na taxa Selic. Eles dizem, entre outras coisas, que a inflação e o repasse cambial estão sob controle, mesmo num quadro de forte desvalorização do câmbio. Afirmam ainda que, \”caso não haja uma ação mais agressiva logo no início de 2009, os riscos são de que o PIB fique substancialmente abaixo do potencial, levando a inflação também para níveis substancialmente abaixo do centro da meta, ainda que dentro da banda [de 2,5% a 6,5%], o que não seria desejável neste contexto de forte desaceleração econômica e tendência global à deflação.\”
Por ver um cenário de \”aumento do risco de desaceleração mais abrupta da atividade doméstica com conseqüente redução do risco inflacionário\”, a Tendências também vê espaço para um corte de 1 ponto. Os analistas da consultoria notam que \”os resultados recentes dos índices de preços mostram que o agravamento da crise global tem reduzido as pressões inflacionárias\”. A brusca desaceleração da atividade, em conjunto com o tombo dos preços internacionais, tem compensado a pressão de alta decorrente da desvalorização do câmbio, afirma a Tendências.