A crise originada nas hipotecas americanas já bateu na economia real, mas ainda falta a deterioração dos dados macroeconômicos globais ricochetear nos preços dos ativos financeiros. Com tal dinâmica em perspectiva, a Unibanco Research fez uma das seleções mais conservadoras para fevereiro entre os participantes da Carteira Valor. Papéis defensivos, com múltiplos baixos, de empresas que não dependam de crédito ou de novos investimentos para tocar suas atividades é que foram privilegiados, diz o estrategista Marcelo Lima.
\”O Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) vai expandir o balanço o quanto for necessário para não deixar o sistema de crédito sucumbir, mas o crescimento das empresas (e da lucratividade) passa pela reabertura dos canais de crédito, pela recuperação do emprego e da demanda, processo que ainda pode demorar\”, diz Lima. Como o Brasil não é uma ilha nesse nó global em que a recessão abate EUA, Europa e Japão, a opção tem sido privilegiar as chamadas \”utilities\”. Neste mês, as escolhas foram Transmissão Paulista PN e Telemar Norte Leste PNA.
O fato de ser boa pagadora de dividendos e não sofrer com a queda do consumo industrial como as geradoras e distribuidoras explica a inclusão da companhia de transmissão de energia, enquanto Telemar é o papel que representa a união com a Brasil Telecom. A seleção conta ainda com Redecard ON, que não precisa de investimentos para se expandir por atuar num mercado ainda incipiente no Brasil e que deve ter registrado no quarto trimestre um aumento de receitas por descontar recebíveis para empresas, suprindo o papel dos bancos que se retraíram no segmento de pequenas empresas. Pão de Açúcar PN é a aposta defensiva em varejo, enquanto Bradespar reflete a distorção dos preços do papel em relação aos ativos que estão debaixo da empresa de participações: Vale e CPFL Energia. Segundo Lima, o desconto atual, de 22% é alto, comparativamente à média histórica, de 10%, 11%.
Sob a percepção de que os indicadores americanos prosseguirão pesando no mercado de ações, a Ativa também adotou um viés conservador, com escolhas até muito semelhantes às da Unibanco. Segundo a chefe de análise, Luciana Leocádio, Redecard é a opção considerada mais defensiva do setor financeiro; Telemar deve concentrar a liquidez da área de telecom com a incorporação das ações da Brasil Telecom, enquanto o Pão de Açúcar tende a ter a vendas no segmento de alimentos preservadas em meio à crise. Perdigão ON é um dos diferenciais da carteira, pela exposição no segmento de alimentos e pela possibilidade de o consumo de frangos, item mais barato, ganhar espaço sobre o de carnes bovinas. A conquista de maior participação de mercado em países como o Japão é outra motivação. AES Tietê é o papel que representa o apelo dos dividendos.
Já a Itaú Corretora preferiu dar um toque de ousadia nas recomendações para o mês, com Petrobras, Vale e CSN. A recuperação dos preços siderúrgicos, a redução dos estoques e o início das negociações da Vale para o reajuste do minério de ferro é que justificam a seleção das metálicas, de acordo com o estrategista de pessoa física, Fábio Anderaos de Araújo. \”Já se falou num corte de 30% para os preços do minério, mas pode não ser tão ruim e lá fora os aços planos dão sinais de reação\”, afirma. Light é a aposta mais defensiva, apoiada em dividendos, enquanto Gafisa tem nos estímulos do governo ao financiamento imobiliário o mote.
Com a bolsa brasileira com um Preço/Lucro (P/L, a relação entre o valor da ação e os resultados projetados) de 7 vezes para 2009, abaixo da média histórica de 9,5 ou 10 vezes, há sim um convite para aplicar em ações no médio prazo, diz Araújo. O risco, entretanto, segue elevado. A temporada de resultados corporativos pode até atrapalhar, adverte.