O Brasil voltou a comprar títulos do Tesouro americano em junho, ajudando a financiar a dívida pública dos Estados Unidos. As aquisições líquidas somaram US$ 12,7 bilhões, o que fez com que a carteira de aplicações em papéis do governo dos Estados Unidos chegasse a US$ 139,8 bilhões, maior valor observado desde outubro de 2008.
Dois fatores contribuíram para o incremento na exposição brasileira à dívida americana. Primeiro, a expansão das reservas internacionais, que foram de US$ 205,576 bilhões para US$ 208,425 bilhões entre maio e junho (pelo dado mais recente, do dia 14, já subiram para US$ 213,730 bilhões).
O segundo fator que pesou no aumento dos títulos americanos em carteira foi a realização de lucros em outras aplicações. O BC resgatou títulos de agências e organismos supranacionais que havia adquirido em fins de 2008, reaplicando o dinheiro em títulos do Tesouro dos Estados Unidos.
Depois da quebra do banco Lehman Brothers, em setembro de 2008, investidores em busca de liquidez fizeram vendas maciças de papéis de emissores como o BIS (na sigla em inglês, banco de compensações internacionais, o banco central dos bancos centrais) e o KfW, o banco alemão de reconstrução. Os papéis, com baixíssimo risco de crédito, passaram a oferecer retornos mais altos. Na época, o BC comprou esses títulos. Mais recentemente, os investidores aumentaram seu apetite por risco e voltaram a comprar títulos das agências e organismos supranacionais. O BC aproveitou, então, a alta dos preços dos papéis para vendê-los.
Nos 12 meses encerrados em maio, o BC havia vendido US$ 24,3 bilhões em papéis do Tesouro americano. Esse movimento despertou rumores de que o Brasil estaria fugindo das aplicações em dólar, que, segundo análises de mercado, irá perder valor em virtude dos estímulos monetários e fiscais feitos pelo governo dos EUA para reanimar a sua economia.
A explicação do BC foi de que as vendas refletiam apenas um movimento normal de gestão de carteira. Ou seja, compras e vendas de papéis para aumentar a rentabilidade das reservas internacionais. Até março, o BC também reduziu o prazo médio das suas aplicações em papéis americanos. Foi uma forma de se proteger de perdas que ocorreriam com a alta da curva de juros dos títulos dos EUA.
Não foi só o Brasil que aumentou sua carteira de títulos americanos. No total, a dívida do governo dos Estados Unidos detida por estrangeiros cresceu US$ 89,3 bilhões em junho. O Brasil é o quarto país que mais investe em títulos americanos, depois de China, Japão e Reino Unido. Em um critério alternativo, que inclui um conjunto de 15 países exportadores de petróleo e de cinco paraísos fiscais do Caribe, o Brasil é o sexto maior detentor de títulos americanos.