Desde o final de semana, o presidente Jair Bolsonaro vem recebendo relatos de parlamentares sobre os riscos que o governo corre com os vetos do projeto de abuso de autoridade.
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), é um dos parlamentares que, ouvindo seus pares, avisou ao governo que haverá “dificuldades” para garantir que vetos do presidente ao projeto sejam mantidos.
A não ser em pontos que já estavam “pacificados” – como o caso do veto ao trecho que condena o policial à prisão por uso irregular de algemas –, desde o dia da votação do projeto no plenário da Câmara. Na ocasião, o líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), procurou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Hugo ouviu do presidente da Casa que a bancada da segurança pública poderá contar com ele, como deputado, para manter o veto nesse ponto, quando chegar a sessão do Congresso que analisará o tema. Maia frisou que ajudará “como deputado”, porque na sessão do Congresso quem preside a Mesa é o presidente do Senado.
Mas Maia e Alcolumbre estão alinhados. E o governo sabe disso.
O blog ouviu integrantes do Planalto e parlamentares nesta quarta-feira (4). Um dos principais auxiliares do presidente chamou o projeto de “vergonha” – e disse que o presidente está ciente dos riscos e desgaste com Congresso –, mas que “pagará para ver”.
Nos bastidores, pesa a avaliação entre políticos de que a decisão dos vetos ocorre em um momento importante para o governo: é parte de uma estratégia para resgatar como prioridade o discurso público de combate à corrupção do governo – após declarações do presidente de ingerência política na Polícia Federal, o que levou a uma irritação da cúpula da corporação e um mal-estar com o ministro, além das mudanças no Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
E mais: mesmo admitindo uma eventual repercussão e reação na votação da Previdência – por exemplo, atrasando o cronograma –, aliados do presidente defendem que os parlamentares que reagirem aos vetos “prejudicando” a votação da agenda econômica devem ser “expostos” nas redes sociais.
Na articulação política, para garantir acordos para manutenção dos vetos, o líder do governo na Câmara conversou ontem com outras lideranças. Mas Vitor Hugo avalia que qualquer negociação em troca da manutenção dos vetos será feita com a liderança do governo no Congresso, e não na Câmara, já que os vetos são analisados em sessão conjunta com o Senado.