Os Ministérios Públicos Eleitorais de Minas Gerais e do Piauí estão investigando supostos pagamentos por propaganda ilegal em redes sociais envolvendo políticos do PT.
A suspeita de propaganda eleitoral ilegal surgiu quando a influenciadora digital Paula Holanda escreveu em uma rede social que foi convidada por uma agência de marketing digital a fazer postagens favoráveis a candidatos do PT em troca de dinheiro. O jornal \”O Globo\” teve acesso às postagens, que foram apagadas.
Paula Holanda disse: muitos ativistas das redes sociais estão participando dessa ação. No Twitter, a proposta era criar um tweet por dia, se alinhado à uma pauta específica que nos enviavam por e-mail.
Paula Holanda disse que concordou no primeiro momento e fez posts favoráveis a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, que é candidata a deputada federal, e ao candidato do PT ao governo de São Paulo, Luiz Marinho.
A influenciadora digital disse que se recusou a continuar fazendo publicações favoráveis a candidatos petistas quando chegaram instruções em relação ao governador do Piauí, Wellington Dias, do PT, que tenta a reeleição.
Ela relatou que recebeu o conteúdo que deveria ser publicado no último sábado (25): \”A intenção da pauta de hoje é divulgar e enaltecer a trajetória e as ações de Wellington Dias, que concorre ao quarto mandato de governador do Piauí. Paula disse que não publicou nada sobre o governador.
Segundo ela, o combinado foi manter sigilo sobre a ação, mas o combinado também foi que a ação seria de esquerda, não uma ação partidária.
E Paula disse que se recusou a fazer isso: Eu nunca vou aceitar dinheiro para fazer ou opinar algo que não acredito.
Hoje o jornal \”O Globo\” publicou um e-mail no qual são oferecidos R$ 1,5 mil por mês para quem participar de \”ações de militância política para a esquerda\”. No texto, são sugeridos temas para as postagens.
\”Fale sobre como as mulheres são pouco representadas na política; Temos de verba 1500 reais por mês para a entrega de um conteúdo por dia publicado na sua rede social mais relevante\”
Segundo a reportagem, a pessoa que mandou o e-mail trabalharia para uma agência de publicidade de Minas Gerais, a Follow, que pertence ao deputado federal Miguel Correa Júnior, do PT de Minas Gerais, que concorre a uma vaga no Senado.
Outras duas agências, a Lajoy e a Beconnected, admitiram ter prestado serviços ao PT para \”monitorar redes sociais e indicar influenciadores\”, mas negaram pagamento. Um dos sócios da Beconnected é Rodrigo Cardoso, assessor do deputado Miguel Correa Júnior.
O caso tem tido grande repercussão. O Piauí chegou a ficar entre os assuntos mais comentados na internet no domingo (26).
A prática é ilegal. A legislação eleitoral só permite a propaganda paga na internet se for feito como impulsionamento de conteúdo – que é quando uma rede social distribui propaganda de campanha para um número maior de pessoas. No entanto, o candidato tem que assinar um contrato diretamente com plataforma de rede social. Isso não pode ser feito por meio de usuários contratados por uma agência e tem que ficar claro que se trata de propaganda eleitoral, não pode parecer uma opinião pessoal.
O Ministério Público em Minas Gerais já está investigando o caso. Os promotores querem identificar e ouvir as pessoas envolvidas na divulgação e os responsáveis pelas empresas. O Ministério Público no Piauí também está analisando as informações.
A lei prevê multa de R$ 5 mil a R$ 30 mil se for confirmada a propaganda irregular.
Gleisi Hoffmann declarou que o Partido dos Trabalhadores não contratou, não encomendou e nem pagou nenhuma empresa ou pessoa para fazer divulgação remunerada nas redes sociais. E que não pratica esse tipo de ação.
Luiz Marinho afirmou que não conhece a influenciadora digital, que não a contratou e que a campanha foi orientada a não contratar serviço fora do que permite a legislação.
O governador do Piauí disse que esta não foi uma atividade organizada pela sua campanha à reeleição. Wellington Dias também afirmou que não conhece a empresa responsável e nem foi informado ou sondado sobre tal ação.
Miguel Correa Júnior declarou que sempre teve a vida pública pautada na legalidade, que trabalhou diretamente com o desenvolvimento de empresas, incluindo a Follow. E que para a realização de ações nunca existiu o pagamento de qualquer tipo de valor a estes perfis de grande influência.
Rodrigo Cardoso, dono da Beconnected, afirmou que nunca existiu ação voltada para partido político ou candidato.
A TV Globo não conseguiu entrar em contato com Paula Holanda, com a Lajoy e com Isabella Bomtempo.