O dono da empresa UTC, Ricardo Pessoa, que delatou ter repassado pelo menos R$ 62 milhões em dinheiro sujo para irrigar de maneira travestida de legalidade campanhas de 18 candidatos de seis partidos, incluindo legendas oposicionistas e da base de sustentação do governo, deve prestar depoimento nesta quarta-feira à tarde na CPI da Petrobras. A oposição torce para que ele confirme o que declarou em 27 depoimentos de delação premiada prestados ao Ministério Público Federal (MPF): repasses de R$ 7,5 milhões para a reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT) e R$ 2,4 milhões, em 2006, para o ex-presidente Lula. No esquema exposto pelo empreiteiro, também são citados políticos do PSDB, PTB, PP, PMDB e PSB.
Paralelamente aos trabalhos da CPI, os investigadores da Operação Lava-Jato buscam novos elementos para tentar fechar o cerco ao ex-ministro Antonio Palocci (PT). De acordo com o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, teria partido do petista o pedido de R$ 2 milhões, provenientes do esquema de corrupção na petroleira, para a campanha de Dilma em 2010.
A assessoria de imprensa da comissão confirmou que o depoimento de Ricardo Pessoa estava marcado para a tarde de hoje. No entanto, ainda esperava uma autorização do juiz federal Sérgio Moro. Ontem, foi feriado em Curitiba. Até o fechamento desta edição, Moro não havia se posicionado sobre o assunto. A expectativa é de que a Justiça Federal do Paraná conceda a autorização na manhã de hoje. Na semana passada, o empresário prestou depoimento na Justiça, mas não mencionou nomes de políticos detentores de foro privilegiado. Na delação premiada, além do montante de propina que teria sido carimbado como doação legal pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o empreiteiro teria mencionado o repasse de R$ 3,6 milhões para o caixa dois do PT.
A tese dos investigadores da Lava-Jato, embasada em depoimentos e transferências bancárias, é de que doações no “caixa um” foram usadas para mascarar pagamentos de propina das empreiteiras do esquema. Um pagamento de R$ 250 mil para a campanha do chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, ao governo de São Paulo, em 2010, aparece na planilha. Tesoureiro da campanha de Dilma em 2014, o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva, teria recebido os recursos destinados à disputa eleitoral.
Palocci Nos bastidores, circula a informação de que os investigadores concentram esforços para avançar em relação à participação do petista no esquema. Após a prisão do ex-ministro José Dirceu, no âmbito da Lava-Jato, ocorrida em 3 de agosto, aumentaram os rumores sobre o cerco a Palocci. Um inquérito da Polícia Federal apura se o petista de fato pediu R$ 2 milhões a Paulo Roberto Costa. O repasse, segundo o delator, teria vindo da cota do PP e operacionalizado pelo doleiro Alberto Youssef. Em acareação entre Costa e Youssef, realizada no mês passado, o doleiro afirmou que não recebeu nenhum pedido do ex-ministro. Ele, no entanto, ressaltou, sem citar nomes, que um novo delator vai esclarecer quem pediu e quem realizou a transação. A defesa de Palocci atesta que ele nunca pediu recursos para a campanha de Dilma.