A fabricante de pilhas e baterias Duracell é conhecida por sua publicidade que mostra um coelho tocando incessantemente um tambor, metáfora aplicável a Warren Buffett, terceiro homem mais rico do mundo. Buffett não para. Sua mais recente transação, anunciada na quinta-feira 13, foi a aquisição da Duracell, marca da Procter & Gamble (P&G), por US$ 4,7 bilhões. Em muitos aspectos, a transação segue à risca os princípios de Buffett. A Duracell é uma marca famosa, tem 25% do mercado americano e é conhecida fora dos Estados Unidos. Ela se junta a outras marcas controladas por Buffett, como a seguradora Geico, a fabricante de camisetas Fruit of the Loom e a empresa de condimentos Heinz.
No entanto, há várias novidades na aquisição, entre elas o desejo do magnata de pagar menos impostos. Para entender o caso é preciso voltar no tempo. Em 2005, a P&G assumiu o controle da Gillette, à época dona da Duracell, em uma transação de US$ 57 bilhões. Os acionistas, Buffett entre eles, receberam ações da P&G. Os resultados da fabricante de baterias têm sido bons, mas dois pontos desagradavam à P&G: a pouca sinergia com seus produtos e as perspectivas de crescimento fracas. No acordo anunciado na quinta-feira 13, a P&G vai injetar US$ 1,8 bilhão na Duracell e transferi-la a Buffett. O bilionário vai pagar com ações da P&G. Ao fazer isso, Buffett estará economizando uma fortuna.
Quando entregou suas ações da Gillette à P&G em 2005, ele recebeu papéis avaliados em US$ 336 milhões. Se fosse vendê-los hoje, contabilizaria US$ 4,7 bilhões. O ganho de capital, que é tributado em 35% nos Estados Unidos, o obrigaria a pagar cerca de US$ 1,5 bilhão em impostos. A P&G terá vantagens semelhantes. Ela poderá transferir o controle da Duracell sem ter de pagar os impostos decorrentes da valorização, e obterá um generoso lote de suas próprias ações que estavam nas mãos de Buffett sem ter de desembolsar dinheiro para isso. Foi a terceira transação desse tipo realizada por Buffett neste ano, embora as duas primeiras – envolvendo uma empresa de petróleo no Texas e uma retransmissora de televisão na Flórida – tenham sido operações de pequeno porte.
O paradoxo nesse negócio é que Buffett vem sendo um crítico ácido da legislação tributária americana. Ele chegou a pedir ao presidente Barack Obama para elevar a tributação sobre os ricos. “Eu pago menos impostos do que meus funcionários na Berkshire”, escreveu ele em um artigo publicado no ano passado. No entanto, para os analistas, não há contradição. “Ele pode ter as opiniões que quiser, mas, como administrador de recursos, é sua obrigação maximizar o valor para os acionistas”, avalia Cliff Gallant, analista da corretora Nomura em Nova York.