Manifestantes que transformaram os protestos do mês de junho em um importante capítulo da história brasileira dão início à agenda de julho com debates sobre o futuro do movimento em Porto Alegre.
Assembleias programadas para hoje e quarta-feira serão essenciais para a definição do que virá a seguir.
O Bloco de Luta pelo Transporte Público, um dos principais organizadores de marchas no Rio Grande do Sul, convocou reunião para hoje, às 18h30min, no Largo Zumbi dos Palmares. O objetivo é avaliar os atos realizados até agora, identificar os avanços e discutir as iniciativas subsequentes. Na quarta-feira, estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) estarão reunidos em mais uma assembleia convocada pelo Diretório Central de Estudantes (DCE), na Faculdade de Educação, com pauta semelhante.
– É hora de sentar um pouco, com a população, e conversar sobre os próximos passos. Debater política e os rumos do movimento – explica Lucas Maróstica, integrante do bloco.
A reunião do Bloco de Luta insere uma pausa no cronograma de protestos, realizados geralmente nas segundas e quintas-feiras. No Facebook, membros do grupo, que congrega militantes de esquerda, estudantes e organizações apartidárias, dividiram-se durante o final de semana: havia os apoiadores da assembleia, justificando que a discussão fortalecerá as mobilizações, e os contrários ao evento, sob a alegação de que poderá haver uma dispersão, desconectando Porto Alegre dos demais Estados. “Por que assembleia se o resto do país estará se manifestando?”, questionou o estudante de Matemática Odair Gomes, provocando 218 comentários. “Por que não assembleia?”, “Organização é o mínimo”, “Quermesse de novo NÃO. O que temos dos governantes são promessas. Vamos comemorar quando tivermos algo real e concreto” e “Tá muito ato em cima de ato, acho que uma reflexão é bom também” surgiram entre os argumentos postados.
Lucas Fogaça, da Assembleia Nacional de Estudantes – Livre (Anel), divide-se entre as provas de final de semestre do curso de Letras na UFRGS e uma série de atividades nos próximos dias. Um dos compromissos é o Ocupa Busão, na quarta-feira, momento em que membros da entidade abordarão passageiros, motoristas e cobradores para alertar para a importância da implantação do passe livre. Fogaça aposta na diversificação das expressões de insatisfação para que a tomada das ruas continue garantindo a atenção das autoridades e angariando adeptos.
– O que aconteceu na Praça da Matriz (na última quinta-feira) tinha um pouco essa proposta. Temos que reinventar, procurar novas formas. Os estudantes chilenos, talvez os que mais lutam na América Latina, já fizeram um beijaço – exemplifica o universitário.
Brigada pronta para evitar vandalismo
A possibilidade de um novo protesto, hoje, mobiliza as forças de segurança e deixa apreensiva a comunidade do bairro Cidade Baixa.
A Brigada Militar garante estar preparada para evitar mais quebra-quebra na região, enquanto comerciantes e moradores, que se armaram com paus, facões e barras de ferro para enfrentar vândalos na última quinta-feira, prometem agir, caso ocorra um novo arrastão.
– A cada evento, a BM vai se aprimorando. Estamos tentando melhorar para atender esta comunidade – garante o subcomandante-geral da BM, coronel Silanus Melo.
A BM vai reforçar o policiamento no bairro como fez no entorno da Avenida Azenha, após lojas da região terem sido, por duas vezes seguidas, alvos de depredações e saques.
Mesmo sem a certeza de mais uma manifestação, e temendo falta de segurança, mensagens de convocação dos resistentes do Cidade Baixa são postadas nas redes sociais. Uma delas foi enviada pelo eletricista Frederico de Souza Lamachia via Facebook.
– Se tiver algum protesto, vamos nos reunir na Travessa do Carmo para tentar fazer um bloqueio ali. Em função de não ter policiamento, a gente precisa defender o que é nosso – diz o comerciante Edson Feldmann.
Centrais sindicais confirmam greve para o dia 11
A greve nacional de trabalhadores convocada por oito centrais sindicais brasileiras está marcada para 11 de julho. Ontem, presidentes regionais de duas entidades afastaram qualquer possibilidade de paralisação para hoje como consta em páginas na internet.
– Desconhecemos esta greve de amanhã (hoje). Estamos desestimulando a participação nela e convocando os trabalhadores para o dia 11– afirmou Guiomar Vidor, presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB-RS).
Conforme ele, a movimentação mais imediata será uma panfletagem amanhã, no aeroporto Salgado Filho, explicando os motivos da paralisação do dia 11 para políticos que costumam embarcar para Brasília nas terças-feiras pela manhã.
Claudir Nespolo, presidente da Central Única dos Trabalhadores no Rio Grande do Sul (CUT-RS), reiterou que a greve está marcada para o dia 11.
As secretarias de Educação da Capital e do Estado informaram desconhecer qualquer orientação para o dia 11 de julho. Hoje, estão previstos dias letivos normais. Na rede particular, as atividades também serão mantidas. Amanhã, o Sindicato do Ensino Privado (Sinepe/RS) discutirá uma possível paralisação em 11 de julho.
Nas redes sociais, membros de uma página que convoca protestos comentavam ontem que a data válida é a da semana que vem. “Amanhã (hoje) é o dia daquela greve fake da direita”, disse um internauta. “A greve geral puxada pelas centrais e movimentos sociais será dia 11”, esclareceu outro. “Greve de Facebook é f…”, desdenhou um terceiro.