Em um momento em que enfrenta riscos de superaquecimento, o Brasil
tem espaço para manter o ciclo de aperto monetário, diz um relatório
divulgado nesta segunda-feira pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) e
elaborado a partir do encontro de ministros de Finanças e presidentes
de bancos centrais do G20, encerrado no domingo, em Washington.
“No Brasil, condições fáceis de financiamento
externo e o rápido crescimento do crédito estão contribuindo para
pressões de superaquecimento”, diz o relatório “Global Economic
Prospects and Policy Challenges”, ao citar problemas como o aumento da
inflação e do déficit em conta corrente.
“Há espaço para continuar com o ciclo de aperto
da política monetária, enquanto as importantes medidas recentes de
consolidação fiscal devem entrar em efeito gradualmente”, diz o texto.
No documento, o Brasil é citado como exemplo dos
riscos representados pelo rápido aumento de crédito em algumas
economias emergentes.
“Exemplos atuais dignos de nota de crescimento
especialmente rápido do crédito, interrompido apenas brevemente pela
crise financeira mundial, incluem o Brasil, a China (e Hong Kong) e a
Turquia”, diz o relatório.
Crédito
O G20 reúne as principais economias avançadas e
em desenvolvimento, entre elas o Brasil, e a partir da crise mundial se
transformou no principal fórum de discussão sobre uma reforma no sistema
financeiro internacional.
Segundo o FMI, caso não sejam abordados com
“respostas apropriadas”, os atuais sinais de crescimento muito rápido do
crédito em economias emergentes do G20 podem trazer riscos de novas
crises financeiras e ter impacto negativo no crescimento de alguns
países.
“Os booms de crédito estiveram relacionados a recentes crises nos sistemas bancários’, diz o relatório.
Segundo o FMI, é difícil identificar com precisão e rapidez quando um boom de crédito é bom ou ruim.
O Fundo cita, porém exemplos históricos para
afirmar que os booms de crédito geralmente são ruins quando são maiores,
mais duradouros e associados à alta na inflação ou rápida elevação dos
preços imobiliários, além de virem acompanhados de aumento no déficit em
conta corrente – problemas presentes na economia brasileira no momento.
Inflação
A pressão inflacionária já levou o Banco Central
a admitir que a inflação ficará fora do centro da meta (de 4,5%) neste
ano, chegando a 5,6% (ainda abaixo do teto, de 6,5%). No entanto, essa
projeção já é questionada por alguns analistas, que temem um aumento
maior da inflação em 2011.
Na última sexta-feira, em um discurso em
Washington, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, disse que o
Brasil está no meio de um ciclo de aperto monetário e que ainda há
“trabalho pela frente” para evitar que o fluxo excessivo de capitais que
entra no país e a consequente pressão inflacionária coloquem em risco a
estabilidade financeira.
As declarações de Tombini mexeram com os
mercados no Brasil, onde foram interpretadas como sinalização de um
prolongamento no ciclo de aperto da taxa básica de juros (Selic),
atualmente em 11,75%. Também aumentaram a expectativa para a reunião
desta semana do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central),
em que são decididas possíveis mudanças na Selic.
Segundo o relatório do FMI, para evitar o
superaquecimento em meio ao excessivo fluxo de capitais, os emergentes
devem buscar “uma combinação de consolidação fiscal e altas taxas de
juros”.
Câmbio
O Fundo também considera aceitável o uso de
controles de capital para conter o riscos de que os problemas causados
pelos grandes fluxos de capital nessas economias acabem afetando outros
países.
“A apreciação da taxa de câmbio que pode
resultar é parte do ajuste desejável, aumenta a renda real, e não deve
ser encarada com resistência”, diz o documento.
O fluxo excessivo de capitais chega aos
emergentes atraído especialmente pelas altas taxas de juros, em
comparação com as baixas taxas nas economias avançadas, que enfrentam
uma recuperação mais lenta.
Um dos efeitos desse cenário, em países como o
Brasil, é a valorização das moedas locais, o que reduz a competitividade
das exportações.
Desde o ano passado o governo brasileiro vem
adotando medidas para tentar combater a entrada excessiva de capitais e
conter a valorização do real frente ao dólar.