A política anticíclica produzida pelo Estado brasileiro neste ano como forma de atenuar os efeitos da crise econômica mundial pode gerar problemas no médio prazo. O Banco Central (BC) alertou pela primeira vez, em seu relatório de inflação divulgado na semana passada, para os riscos de aceleração da inflação de preços a partir do próximo ano como decorrência dos estímulos fiscais e aumento dos gastos públicos promovidos pelo governo federal ao longo de 2009. Com a retomada do crescimento – o PIB deve alcançar 5% em 2010 – empresários e analistas reunidos no Congresso da Indústria, realizado ontem pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), voltam os olhares para a retirada dos estímulos fiscais da economia.
“A situação fiscal do Estado está dramática. Teremos graves problemas no médio prazo e isso será um grande empecilho para a retomada do crescimento”, afirmou José Roberto Mendonça de Barros, economista da MB Associados. Para ele, é hora de “recuperar aquilo que foi gasto no sufoco da crise”.
Segundo Murilo Portugal, diretor-adjunto do FMI , “a retomada da sustentabilidade fiscal é muito importante”. Uma das principais tarefas do pós-crise será a restauração do equilíbrio nas contas públicas. Com a queda na arrecadação, devido à diminuição de atividade e às isenções fiscais concedidas, seria necessário maior controle das despesas para se evitar um retorno da inflação, defendem os analistas.
“É preciso atentar para o hiato do produto, maior nos países ricos, que representa grande risco no médio prazo”, afirmou Portugal. A diferença entre o Produto Interno Bruto (PIB) potencial e o PIB efetivamente registrado é o que se convencionou chamar de hiato do produto. Quanto menor essa diferença, melhor opera um país. Crises econômicas diminuem o PIB potencial, relativizando um crescimento menor – ou mesmo uma recessão – no PIB. “Após o primeiro choque do petróleo, em 1973, quando o PIB potencial mundial diminuiu, a política monetária das nações continuou expansionista, gerando distorções que desembocaram numa crise mais forte, na década de 1980”, afirmou o diretor-adjunto do FMI, alertando para os riscos que uma política expansionista prolongada pode gerar.
“O desafio fiscal será importante no Brasil nos próximos anos, mas o governo já anunciou que vai retirar alguns estímulos entre o fim deste ano e o começo de 2010”, disse Portugal.
Uma das medidas de combate à crise promovidas pelo governo foi a redução do IPI sobre automóveis e eletrodomésticos da linha branca. Segundo planos do governo, a cobrança de IPI deve ser paulatinamente restituída até o fim do ano.
“Há problemas com gastos públicos elevados, mas isso não deve ser combatido com a retirada das desonerações de impostos”, afirmou Paulo Skaf, presidente da Fiesp. “O governo está muito consciente de que essas desonerações devem ser mantidas”, disse.