A inflação de materiais de construção manteve-se bem acima dos demais indicadores de preços e deve seguir, nos próximos meses, tendência contrária à dos Índices Gerais de Preços (IGPs) e do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A desaceleração causada pela redução do IPI e pela queda nos preços de commodities metálicas ficou restrita ao intervalo de março a junho. Para o segundo semestre, há tendência de altas mensais mais significativas e de uma desaceleração muito pequena no acumulado de 12 meses, enquanto o IPCA e os IGPs devem ter desacelerações mais fortes.
No acumulado de 12 meses até julho, o IPCA teve alta de 4,5% e o IGP-M, deflação de 3,57%. Já o Índice Nacional da Construção Civil (Sinapi) acumulou alta de 9,43% e o Índice Nacional do Custo da Construção (INCC/FGV), de 6,72%. Na comparação mensal, o Sinapi, apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), acelerou frente a junho, passando de 0,35% para 0,48%. O grupo materiais acelerou 0,21 ponto percentual, para 0,35%. O INCC, que compõe o IGP-M, teve variação menor em julho, passando de 1,53% para 0,37%. Porém, o grupo materiais, equipamentos e serviços saiu de uma queda de 0,19% em junho para variação zero no mês.
A consultora da FGV Projetos, Ana Maria Castelo, considera que o efeito da redução do IPI sobre preços de materiais de construção já foi absorvido. E, embora tenha sido estendido para o resto do ano, o benefício fiscal já não causará efeito significativo. “Estamos num quadro de recuperação da demanda por construtoras e famílias, causada pela recuperação na oferta de crédito e na renda. Com a demanda em recuperação, os preços já deixam de cair”, disse.
O gerente de marketing de produtos da Cecrisa, Gelcy Pizzollo Torquato, observa que os preços dos revestimentos cerâmicos ficaram estabilizados graças à redução do IPI, mas os custos aumentaram. “Energia teve um aumento importante e o custo das matérias-primas também”, afirmou. Ele diz que, por enquanto, a empresa não estuda reajustar preços. No primeiro semestre, a Cecrisa registrou crescimento de 15% nas vendas das linhas para construção de baixo custo e alta de 7% nas vendas das linhas de maior valor agregado.
O Grupo Incefra, que desenvolveu uma linha de revestimentos cerâmicos de baixo custo para obras do Programa de Arrendamento Residencial (PAR) e do Programa de Aceleração do Crescimento (PCA), também ampliou a produção neste ano em 17% para atender sobretudo à demanda por materiais de custo menor. “Historicamente o segundo semestre é mais forte que o primeiro e neste ano existe essa procura extra por produtos para baixa renda”, afirma o diretor superintendente do grupo, João Adriano Ribeiro. “É um desafio para as empresas buscar soluções de baixo custo. Há itens que estão em falta no mercado”, diz o superintendente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Cerâmica (Anfacer), Antonio Carlos Kieling. Segundo a entidade, no ano passado, 51% da produção de revestimentos cerâmicos já eram vendidos às classes C, D e E e esse percentual tende a crescer significativamente neste ano.
“As obras do Minha Casa, Minha Vida começam no segundo semestre e vão gerar uma demanda mais forte por materiais, devendo dar mais impulso à indústria”, concordou o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat), Melvyn Fox. No primeiro semestre, as vendas de materiais caíram 16% mas, em junho, houve expansão de 3,6% sobre maio, com ajuste sazonal. Para o ano, a Abramat projeta crescimento zero em relação a 2008.
Além da demanda aquecida, os reajustes salariais também devem exercer pressão sobre a inflação do setor no semestre, apontou a equipe econômica do Santander em relatório. Conforme dados do Ministério do Trabalho, a construção elevou a oferta de emprego formal em todos os meses do ano, com geração de 79,4 mil postos no primeiro semestre, 4,1% a mais do que no mesmo intervalo de 2008. O mercado de trabalho aquecido garantiu à categoria alguns dos acordos mais altos de reajuste salarial do primeiro semestre – 9% em São Paulo, 9,5% em Londrina e 9,76% na Bahia. Tais reajustes contribuíram para a aceleração dos indicadores de inflação ao longo do primeiro semestre .