O Federal Reserve (ou Fed, banco central dos EUA) deixou os mercados perplexos, ontem, ao anunciar que comprará US$ 300 bilhões em títulos do governo de longo prazo, e outros US$ 850 bilhões emitidos pela Fannie Mae e a Freddie Mac (duas maiores agências hipotecárias do país, apoiadas e socorridas pelo governo).
Para estimular ainda mais a economia, o Fed disse que comprará uma quantia adicional de US$ 750 bilhões em títulos lastreados em financiamentos imobiliários, elevando o total de aquisições neste ano para US$ 1,25 trilhão. O Fed também aumentará as suas compras de dívidas de agências como Fannie Mae and Freddie Mac em até US$ 100 bilhões, elevando o total para US$ 200 bilhões. As compras dos títulos do Tesouro acontecerão nos próximos seis meses.
“O Federal Reserve empregará todos os instrumentos disponíveis para promover a recuperação econômica e para preservar a estabilidade de preços”, disse o banco central, em comunicado.
A instituição monetária disse que está comprando títulos do Tesouro como forma indireta de reduzir as taxas de empréstimo. O banco espera que as compras maciças de títulos lastreados em financiamentos residenciais reduzam as taxas dos financiamentos da casa própria, permitindo às famílias refinanciar suas moradias a taxas mais baixas, e reduzindo a pressão sobre o exaurido mercado habitacional.
A declaração do Fed ocorreu logo depois que o Banco do Japão disse que iria aumentar suas aquisições de bônus do governo japonês em quase um terço, de 1,4 trilhão de ienes (US$ 14 bilhões) ao mês para 1,8 trilhão de ienes.
Desde que cortou as taxas de juros oficiais para perto de zero em dezembro, o banco central dos Estados Unidos vem tentando reduzir os custos reais dos empréstimos para as empresas e famílias americanas, comprando títulos ligados a hipotecas e fornecendo financiamento aos mercados de crédito – uma estratégia que ele chama de facilitação do crédito.
Antes da reunião de ontem, o Fed estava sobre pressões renovadas para comprar títulos do Tesouro, depois de sinais de que as compras de títulos do governo do Reino Unido pelo Banco da Inglaterra haviam conseguido reduzir não só as taxas de empréstimos isentos de riscos, como também as taxas para tomadores pessoas jurídicas.
“Apesar de a perspectiva para o curto prazo ser débil, o comitê prevê que as ações políticas tomadas para estabilizar os mercados e as instituições financeiras, aliadas a incentivo fiscal e monetário, contribuirão para uma gradual retomada do crescimento econômico sustentável”, disse o Fed. A decisão também incluiu a provável expansão da linha de crédito para títulos lastreados em ativos a prazo (Talf, na sigla em inglês). O programa visa estender crédito a famílias e empresas de pequeno porte e o Fed disse que ele também poderá incluir outros ativos financeiros.
As iniciativas agressivas pegaram os investidores despreparados. Os bônus do governo dispararam, com o rendimento sobre o papel para 10 anos, que já havia caído para 6 pontos-base, caindo 45 pontos-base adicionais, para 2,51%. O Dow Jones, que já havia sofrido queda de 60 pontos-base antes do comunicado do Fed, subiu 100 pontos, minutos após a notícia ser veiculada.
A decisão do Fed se segue a dados sombrios do governo, que mostram a gravidade da recessão econômica. Números recentes revelaram que a economia dos EUA encolheu 6,2% no quarto trimestre do ano passado. Esta foi a taxa mais célere desde 1982, arrastada para baixo por uma forte queda nos estoques detidos pelas empresas.
Em fevereiro, os empregadores eliminaram mais 651 mil postos de trabalho, levando a taxa de desemprego a 8,1%, mais alto nível em 25 anos. A recessão respondeu pela perda de 4,4 milhões de empregos nos EUA, e a taxa de desemprego praticamente dobrou, a partir dos 4,4% iniciais. Além disso, em 2008 as famílias dos EUA perderam um patrimônio total de US$ 11,32 trilhões em meio à mais profunda recessão econômica desde a Grande Depressão. A queda de 18% em um ano foi a mais acentuada desde que o banco central começou a manter esses registros, em 1946.
Os temores de deflação se atenuaram ontem, depois de o Departamento do Trabalho informar que os preços nos EUA aumentaram em fevereiro pelo segundo mês seguido, puxados pela recuperação nos preços da energia, vestuário e carros.