A crise terá efeito \”profundo e prolongado\” sobre os países em desenvolvimento, com ingredientes para uma situação econômica e social potencialmente explosiva, alertou ontem o diretor-geral da Organização Mundial de Comércio (OMC), Pascal Lamy.
Em sua mais sombria avaliação sobre o estado da economia global até agora, Lamy afirmou que os mais afetados serão os países cujo desempenho econômico recente dependeu de fatores externos, notando que suas exportações de petróleo, commodities agrícolas, minerais, têxteis e vestuários e turismo, que já vem sofrendo substancial queda com a contração da demanda global.
Lamy apontou a baixa dos investimentos diretos estrangeiros (IED) e de remessas como outros ingredientes para uma situação explosiva em países em desenvolvimento, que são dependentes desses recursos.
A situação global está tão instável que a OMC está revisando com freqüência suas projeções sobre o comércio mundial. Até recentemente, levava em conta contração de 4% das trocas globais.
O que está claro é que \”o comércio é uma das vitimas dessa crise econômica\”, com o risco de bloquear um dos motores mais importantes do crescimento de países em desenvolvimento, acrescentou Lamy.
O pessimismo na OMC cresceu depois das projeções de queda maior na economia da União Européia, um dos elefantes do comércio global. A queda foi de 1% em 2008 e vai ser de pelo menos 2% este ano. Isso mina ainda mais as perspectivas de expansão econômica de países que dependem muito das exportações para o mercado europeu. O Brasil destina cerca de 20% de suas exportações para a UE.
O diretor da OMC relatou que, no Camboja, 60% das companhias de têxteis e confecções não tinham em novembro mais encomendas para depois de fevereiro, como resultado da recessão nos Estados Unidos.
Nesse cenário, os temores de protecionismo crescem.
A OMC estima que mais de 20 países adotaram medidas comerciais de proteção, em resposta a crise global. O Brasil está na lista, como um dos que elevaram ou pretendem subir tarifas de importação.
Como o Valor revelou, Lamy deflagrará na próxima semana um mecanismo de monitoramento das tendências do comércio mundial, como meio de pressão sobre os países para evitar mais barreiras ao comércio. Também pretende fazer novas reuniões com bancos privados e outras institucionais internacionais para tratar do aperto de crédito ao comércio exterior.