Enquanto a diplomacia americana ainda sofre as consequências em decorrência do vazamento de centenas de milhares de telegramas ao WikiLeaks, dados de duas mil contas secretas estão à beira de ser revelados. Cumprindo o que havia antecipado no fim de semana, o antigo responsável pelas operações do banco suíço Julius Baer nas Ilhas Cayman entregou ontem ao fundador do site, Julian Assange, informações sobre movimentações financeiras no paraíso fiscal. Segundo o autor da denúncia, Rudolf Elmer, os documentos mostram atividades relacionadas a “pessoas que fizeram fortuna nas artes e nos conglomerados multinacionais nos dois lados do Atlântico”.
Numa entrevista em Londres, Assange e Elmer afirmaram que os documentos vazados mostram operações secretas de parlamentares e empresários realizadas entre 1990 e 2009 – cujo objetivo era burlar o pagamento de impostos. Os dados são de contas de três bancos. Segundo informaram Elmer e Assange, vários países são citados, entre eles Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, Áustria e alguns da Ásia.
Assim como administrou as informações recebidas sobre o governo americano, Assange – que ainda não leu o conteúdo – quer processar os dados cuidadosamente antes de divulgá-los. De acordo com o WikiLeaks, o material estará disponível no site em aproximadamente duas semanas.
– Nós trataremos dessa informação como toda informação que recebemos – disse Assange. – Haverá uma revelação completa.
Alvo de um processo por já ter revelado ao site documentos sobre atividades financeiras nas Ilhas Cayman, Elmer é acusado de coerção e violação das rigorosas leis de sigilo no setor bancário, e enfrentará uma audiência amanhã. Ao entregar os documentos ao WikiLeaks, ele afirma ter como objetivo chamar a atenção da sociedade sobre o que considera um sistema injusto, feito para permitir que ricos lavem dinheiro.
– Sou contra o sistema (bancário). Sei como funciona e conheço as operações efetuadas diariamente. A partir deste ponto de vista, quero permitir que a sociedade conheça o que sei. O sistema é prejudicial para a nossa sociedade – denunciou.
Assange elogiou a tentativa de Elmer de expor as práticas da indústria financeira. Segundo ele, alguns meios de comunicação – como o “Financial Times” e a Bloomberg – poderão receber o material do WikiLeaks antecipadamente. O australiano ainda disse que os documentos – ou parte deles – poderão, ainda, ser entregues às autoridades britânicas encarregadas de investigar esse tipo de fraude.
Elmer trabalhou por quase 20 anos no suíço Julius Baer e era responsável pelas operações das Ilhas Cayman há oito anos quando foi demitido, em 2002. Três anos depois, ele passou 30 dias na prisão por revelar segredos bancários. Ele sustenta, no entanto, que os dados revelados não estão sob a jurisdição das autoridades suíças, e sim da ilha caribenha.