Apesar da reação inicial negativa dos mercados ao plano de ajuda aos bancos americanos, o ex-presidente do Banco Central (BC), Gustavo Loyola, afirmou que o pacote tem pontos positivos e que seu resultado vai depender dos detalhes ainda não revelados.
Loyola, que pilotou o BC brasileiro de 1995 a 1997, no período de implementação do Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (Proer), considerado um dos mais bem-sucedidos planos de saneamento de crise bancária do mundo, acha pouco provável que os Estados Unidos lancem mão da estatização por causa da cultura americana.
Mas não descarta a possibilidadisso ocorrer. A Inglaterra, com cultura semelhante, já fez estatizações nessa crise (a do Northern Rock, por exemplo) e assumiu participações amplamente majoritárias em vários bancos como o Royal Bank of Scotland (RBS), do qual possui quase 70% do capital.
O próprio BC brasileiro, revelou Loyola, pensou em estatizar bancos em dificuldades antes da implementação do Proer. Mas a ideia foi descartada porque o Brasil vinha de uma experiência muito negativa com a quebradeira dos bancos estaduais.
\”Não sou contra a nacionalização. In extremis pode ser adotada. Resolveria tudo rapidamente. Tudo depende do custo fiscal\”, disse o ex-presidente do BC.
Mas, mesmo a saída pela estatização, disse o economista, deve incluir a separação do banco bom do banco ruim. \”O resultado deve ser o surgimento de bancos bons, recapitalizados, que voltem a dar crédito. Não é aconselhável deixar os bancos zumbis, praga que assolou o Japão. Os zumbis são bancos que nem vivem nem morrem; e não dão crédito, o que não favorece a recuperação econômica\”, afirmou Loyola.
A separação do banco bom do ruim esteve no cerne do Proer e está também no plano apresentado terça-feira pelo secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, mas de modo radicalmente diferente, salientou Loyola.
No plano americano, o banco ruim é vendido e o banco bom permanece com os acionistas atuais. \”Aqui foi ao contrário\”, disse. No Proer, o banco ruim ficou com o acionista original e o bom foi vendido a um novo dono. O Proer surgiu em novembro de 1995, logo após a intervenção no Econômico, o 22 º banco brasileiro a quebrar depois do Plano Real, implantado em 1994. O programa custou o equivalente a 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB), cerca de R$ 30 bilhões a preços da época.
Loyola ressalvou que existem fatores positivos no plano de Geithner. Um deles é o volume de recursos envolvido, cerca de US$ 2 trilhões, o que revela o reconhecimento \”da escala do problema\”.
Outro é incluir o setor privado no fundo que vai comprar os ativos tóxicos. O teste de estresse nos bancos também é interessante porque vai mostrar claramente a perspectiva de recuperação.
\”O diabo está nos detalhes não divulgados, como a definição dos preços dos ativos ruins e até que ponto irá a limpeza. Será ela suficiente para permitir a retomada do crédito? O governo deixou espaço aberto. Divulgou um esqueleto que pode dar lugar a um monstro que não chega a lugar nenhum ou pode dar certo.\”