Em mais uma tentativa de investir numa agenda positiva para dissipar a crise, a presidente Dilma Rousseff começará a viajar nos próximos dias para inaugurar obras e lançar programas de governo. Em reunião com ministros, na tarde dess segunda-feira, 27, ela pediu que todos apresentem um cardápio de projetos que estão prontos para sair do papel.
A estratégia foi preparada para mostrar que o governo não está paralisado por causa das crises política e econômica. Amanhã, Dilma deve visitar Maricá, no Rio de Janeiro, para inaugurar 3 mil unidades habitacionais do programa Minha Casa Minha Vida. Na próxima semana, o roteiro tem início nas Regiões Norte e Nordeste, bolsões de votos nos quais o PT perdeu antigos eleitores. A primeira parada deve ser o Maranhão.
Além disso, Dilma aparecerá mais em programas de TV e nas redes sociais. O governo quer transmitir a mensagem de que a crise é passageira e que, apesar das turbulências, o Brasil de hoje é um país melhor do que antes. A presidente lançará, ainda, o programa Jovem Aprendiz e vai destacar a marca de 60 milhões de pacientes atendidos pelo programa Mais Médicos.
Nos bastidores, o governo avalia que a tendência do Tribunal de Contas da União (TCU) é rejeitar as contas da presidente Dilma Rousseff de 2014. Se isso realmente ocorrer, o parecer será encaminhado à Comissão Mista de Orçamento e, depois, tem de ser votado pelos plenários da Câmara dos Deputados e do Senado, que podem abrir processo de impeachment contra ela por crime de responsabilidade.
Conforme mostrou o Estado ontem, a presidente espera o apoio de governadores para pressionar ministros do Tribunal de Contas da União. Levantamento realizado pelo Palácio do Planalto indica que 17 dos 27 Estados podem ser atingidos por uma espécie de “efeito cascata” se a decisão for desfavorável à gestão Dilma Rousseff.
Em termos práticos, isso significa dizer que esses 17 Estados também “pedalaram” (utilizaram manobras contábeis) para fechar as contas públicas e poderão ser alvo de questionamento por parte de cada Tribunal de Contas do Estado (TCE).
Com o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), contra Dilma, o governo está nas mãos de Renan Calheiros (PMDB-AL), que comanda o Senado. O ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha, admitiu que o Palácio do Planalto precisa dividir os cargos para contemplar um maior número de aliados, mas negou o toma lá dá cá em troca de apoio no Congresso.
“Essa questão é mal interpretada pela imprensa”, disse Padilha. “Em vários países, como a Alemanha, os partidos integram o governo para ajudar a administrar. Aqui também. A nossa pretensão é liquidar esse assunto, na pior das hipóteses, até o meio do mês de agosto. Não passa pela nossa cabeça passar do meio”, acrescentou o ministro, que, apesar de ser o titular da Aviação Civil, ajuda o vice-presidente da República, Michel Temer, na articulação política do governo.
Padilha também falou sobre a relação do governo com a gestão de Eduardo Cunha na Câmara dos Deputados. “A pauta-bomba do Congresso não destrói o governo. Destrói a expectativa positiva da população”, afirmou ele, que é do mesmo partido de Cunha, o PMDB.