O reajuste dos preços dos combustíveis nas refinarias anunciado pela Petrobras na noite de sexta-feira, de 4% para a gasolina e de 8% para o óleo diesel, pode dar um fôlego financeiro para a companhia, algo necessário para a petroleira ter um alívio em caixa e continuar investindo. Os analistas do mercado, no entanto, receberam com frieza o comunicado da estatal. E deram dois motivos: as apostas eram de um aumento maior dos preços, de 5% e 10%, respectivamente; e a metodologia da nova política de reajustes dos combustíveis – importante para os futuros reajustes sem interferência política – foi vago e sem transparência.
Segundo Karina Freitas, analista da Concórdia Corretora, a política de reajuste dos combustíveis informada no comunicado não trouxe novidades: os três critérios mencionados – “assegurar que os indicadores de endividamento e alavancagem”, “convergência dos preços no Brasil com as referências internacionais” e “não repassar a volatilidade dos preços internacionais ao consumidor doméstico” – são semelhantes aos citados pela companhia em outro comunicado, de 30 de outubro.
– Foi pouco elucidativo. Na verdade, não mudou nada, já que não tem métricas de cálculo, não há previsibilidade – avalia Karina, acrescentando que será necessário aos investidores monitorar nos próximas dias as divulgações da Petrobras sobre o modelo de reajuste. – É preciso aguardar, ver se a companhia vai dar mais informações. Mas acho que a tendência é que o mercado tenha uma avaliação negativa sobre tudo isso.
No comunicado divulgado ao mercado na noite de sexta-feira, a Petrobras sinalizou, porém, que não deve detalhar o modelo mais do que o informado. A nota da estatal diz que “por razões comerciais, os parâmetros da metodologia de precificação serão estritamente internos à companhia”.
Para o analista de um banco do varejo, que não quis ser identificado, a mensagem que ficou é que o “Conselho de Administração da Petrobras, comandando pelo governo, vai continuar decidindo se a empresa deve elevar seu preços ou não, de olho no controle de inflação”.
– A ideia de ter um modelo que permitisse reajustes automáticos de preços, citado nos primeiros comunicados, desapareceu – afirmou o analista.
Na sexta-feira, as ações preferenciais (PN, sem voto) da Petrobras fecharam em alta de 2,46%, a R$ 19,12, na expectativa do anúncio do reajuste dos combustíveis, como de fato aconteceu após o fechamento da Bolsa. Os papéis ordinários (ON, com voto) subiram ainda mais, 3,32%, a R$ 18,32. Nada que eliminasse, no entanto, as perdas dos investidores com as ações da empresa ao longo do mês, de 6,41% e 6,24%, respectivamente.
Marcelo Torto, analista da Ativa Corretora, acredita que, mesmo com a forte alta das ações na sexta-feira, ainda havia dúvida na cabeça dos investidores se o reajuste seria anunciado no fim do dia ou se ficaria para meados de dezembro. Por isso, ele avalia que pode haver um movimento positivo para as ações da Petrobras no curto prazo.
– O aumento foi positivo porque ajuda a companhia a continuar investindo, ainda que a defasagem continue. E sobre o modelo de aumentos de preço, acho que o mercado já tinha aceitado que não seria algo automático. Não deve ser um fator de pressão – acredita o analista da Ativa, lembrando que os papéis caíram 6% no pregão da última terça-feira após o ministro da Fazenda, Guido Mantega, revelar um desconforto do governo com o modelo de reajuste inicialmente previsto pela Petrobras.
Após reajuste, defasagem da gasolina está em 10%
Segundo cálculos do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), a defasagem da gasolina era de 15% e do óleo diesel de 20% antes do reajuste dos combustíveis anunciado na sexta-feira. Com o aumento de preços aplicado na meia-noite de sábado, essa defasagem teria encolhido para cerca de 10% na gasolina e de 12% no diesel. Isso significa que, embora em uma situação melhor, a companhia vai continuar importando combustíveis por um preço maior do que vende nas refinarias.
No terceiro trimestre deste ano, o lucro líquido da Petrobras encolheu 39% em comparação ao mesmo período do ano anterior, para R$ 3,395 bilhões. Os motivos foram a defasagem dos combustíveis e e a baixa de poços secos. A relação entre o dívida e patrimônio da empresa (alavancagem) no terceiro trimestre foi de 36%, acima do limite desejável que havia sido estabelecido pela companhia, com teto fixado em 35%.
No balanço, a companhia explicou que ainda que tenha conseguido “quatro reajustes de preço de diesel e dois de gasolina nos últimos 16 meses, totalizando 21,9% e 14,9% de aumento, respectivamente, a forte depreciação do real desde maio, chegando a 22% de desvalorização, fez com que a defasagem voltasse a crescer nos últimos meses”.
Segundo Luana Helsinger, analista da corretora GBM, apesar de a notícia ser positiva para redução da alavancagem da empresa, a reação do mercado nesta segunda-feira é imprevisível:
– Não foi o melhor dos mundos para a empresa, mas foi um aumento bem-vindo por causa do pesado plano de investimentos da Petrobras. E como o ano que vem é de eleições presidenciais, o mercado vinha com um pé atrás sobre o reajuste. Então, pode ter gente na segunda-feira comprando surpresa com a decisão e gente vendendo porque ficou decepcionado com o tamanho do aumento – explicou a analista.
De 19 recomendações de analistas do mercado para as ações preferenciais da companhia, 12 são de compra ou “overweight” (o que indica que os papéis terão um desempenho acima da média do mercado). Outras sete recomendações são manutenção ou “equalweight” (desempenho em linha com o mercado). Essa recomendações antecedem, no entanto, o anúncio do reajuste dos combustíveis.