Relativamente pouco utilizados no país por agroindústrias e produtores rurais, apesar dos recorrentes alertas dos gestores de riscos, os instrumentos de hedge contra variações cambiais ganharam ainda mais importância para o setor depois da guinada do dólar no ano passado e das incertezas que ainda pairam sobre os mercados financeiros globais.
Mas, apesar da conjuntura em tese favorável a uma maior difusão desse tipo de proteção, que ainda hoje esbarra em resistências até culturais, a maior dificuldade no processo de obtenção de crédito para financiar tais operações surge como o grande obstáculo a ser transposto para tornar viável o maior uso de instrumentos como NDF (“Non Deliverable Forwark”), contratos futuros de dólar e opção de dólar.
Como lembra o “Guia Valor Econômico de Agronegócios”, de autoria do jornalista Carlos Raíces, os mercados de derivativos começaram a chamar a atenção de agroindústrias e produtores a partir do fim da década de 80, com a redução da interferência do governo no setor. Especificamente no caso das oscilações do dólar, como já destacaram diversos estudos, proteções ganharam fôlego com a política de câmbio flutuante vigente desde 1999.
De olho nesse mercado, o Rabobank, instituição financeira com sede na Holanda e foco no agronegócio – no Brasil, a carteira rural do banco totalizou US$ 730 milhões em 2008 – , intensificou as ações de esclarecimento sobre a importância dos instrumentos de hedge cambial para garantir as margens do negócio. “Sabemos que a utilização desses instrumentos implica mudança de cultura. Às vezes, é quase uma catequese. Grandes produtores, por exemplo, cresceram sem esses instrumentos, mas em um contexto diferente”, diz Berenice Righi Damke, operadora da mesa de clientes do Rabobank no país.
Dos instrumentos de proteção às variações do câmbio à disposição, informa, o NDF é hoje o mais utilizado por empresas ligadas ao agronegócio e produtores rurais, por não ter custo inicial, por ter ajuste só no vencimento e pela “eficiência fiscal” (imposto de renda de 15% sobre o ajuste positivo, recolhido por meio de guia específica). Trata-se de um contrato de balcão, registrado na Central de Títulos Privados (Cetip).
Se recorrer ao dólar futuro, contrato negociado na BM&FBovespa, o interessado terá mais rigidez nas datas de vencimento (sempre no primeiro dia útil de cada mês) e no volume negociado (lote-padrão de US$ 50 mil), ao contrário do NDF. No caso da opção de dólar, lembra estudo de autoria de Berenice, paga-se um prêmio ao fechar o negócio e, no vencimento, há duas possibilidades: “ou se exerce a opção e se recebe um ajuste (positivo), ou não se exerce a opção (ajuste é zero). Se não for exercida, o custo da opção é o prêmio já pago no passado.” É um mecanismo semelhante ao de um seguro.
Independentemente da alternativa, realça Berenice, o importante é que exista proteção – grandes produtores que recorrem a esses instrumentos costumam hedgear de 30% a 40% do faturamento. Para esta safra 2008/09, prevê o Rabobank, “o contexto externo deverá continuar influenciando negativamente o mercado local, provocando aumento na taxa de câmbio”. Mas, ainda assim, é aconselhável uma proteção contra a baixa de taxa de câmbio suficiente para cobrir a exposição ao dólar.