Os investidores voltam suas atenções hoje para a reação do mercado financeiro à quebra, na sexta-feira, de cinco bancos norte-americanos, entre eles o Colonial Bank – a maior falência do ano até o momento. Dwelling House Savings and Loan Association, Community Bank of Arizona, Community Bank of Nevada, e Union Bank engrossam a lista de instituições que fecharam as portas no mesmo dia, elevando o número total de falências nos Estados Unidos para perto de 80 somente em 2009.
As 346 agências do banco, que tem sede no Alabama, reabriram sábado como agências do banco BB&T, informou o Federal Deposit Insurance Corp (FDIC – o organismo que garante os depósitos bancários nos EUA).
O Colonial Bank tinha aproximadamente US$ 25 bilhões em ativos e US$ 20 bilhões em depósitos. O BB&T vai comprar cerca de US$ 22 bilhões em ativos do banco e o restante ficará com o FDIC. Os depósitos seguirão garantidos pelo FDIC. Todos os depósitos e financiamentos dos clientes do banco que quebrou foram transferidos para o banco BB&T automaticamente.
Outra instituição bancária, a financeira Dwelling House Savings and Loan Association, de Pittsburgh, na costa leste dos EUA, também quebrou. A única agência da financeira e as contas serão assumidas pelo banco PNC. O Dwelling House tinha cerca de US$ 13,4 milhões em ativos, dos quais US$ 3 milhões ficarão com o PNC, e US$ 13,8 milhões em depósitos.
O regulador bancário norte-americano FDIC anunciou ontem o encerramento do Colonial Bank, que se transforma na maior falência deste ano. Os activos do banco de Alabama ficam nas mãos do concorrente BB&T.
A FDIC, encarregada pela mediação da dissolução do banco, já avançou que o BB&T irá ficar com a totalidade dos cerca de 14 mil milhões de euros de depósitos do Colonial Bank.
Em comunicado, a reguladora norte-americana fez saber que “as 346 agências do Colonial Bank no Alabama, Flórida, Geórgia, Nevada e Texas vão abrir normalmente amanhã, sob a égide do BB&T.” Os clientes do banco falido passam automaticamente a clientes do BB&T.
A venda de ativos ajudou os bancos norte-americanos ameaçados de fecharem as portas a registrarem lucros bilionários no segundo trimestre. No entanto, especialistas afirmam que até o final do ano o mercado ainda receberá notícias negativas do setor como reflexo de uma crise que não foi superada.
Exemplos como o do Bank of America – que teve resultado acima do esperado, mas amarga uma alta na inadimplência dos empréstimos; e do Citigroup que, não fosse a venda de participação na operação de corretagem Smith Barney, teria perda de U$0,27 por ação no segundo quarto do ano, justificam a opinião do professor de Gestão da Brazilian Business School, James Hunter.
Hunter, 63, avalia que a maneira como os bons resultados foram conseguidos por esses bancos podem estar gerando uma nova bolha na economia dos Estados Unidos. Apesar de esperar para o terceiro trimestre deste ano uma queda na economia nos moldes da de outubro de 2008, o professor admite que os esforços dos governos não permitirão que a recessão volte à estaca zero. Uma recuperação sólida, que ele espera para meados de 2010, dependerá da rígida regulamentação para o mercado financeiro, segundo o professor.
Apesar de concordar que a recuperação dos bancos em função da venda de ativos é pouco consistente, Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, pondera que a retomada do crescimento não será afetada no próximo trimestre. “À medida que retoma-se o consumo, a arrecadação também cresce e isso motiva um avanço mais sólido desses bancos”, conclui.
Alex acredita que mesmo inflando os resultados em curto prazo, as consequências mais consistentes da venda dos ativos, serão sentidas em 2010.
Recentemente, o governo dos EUA mostrou-se empenhado em aumentar a regulação sobre os derivativos de balcão (operações que vinculam o valor das transações ao comportamento futuro de outros mercados; com muitos riscos, mas ganhos muito altos), que movimentam cerca de US$450 trilhões na economia norte-americana. Na ocasião, as declarações do Tesouro norte-americano foram taxativas e propunham que o mercado de derivativos estivesse sujeito a supervisão e regulação substancial, que incluíam exigências de capital, margem e padrão de conduta. As pressões por regulação aumentaram depois que a seguradora AIG quase quebrou em devido a sua exposição ao mercado de CDS (swap de crédito).
Hunter vê como excesso de otimismo as perspectivas de fim da crise no segundo trimestre deste ano, em vista dos resultados industriais ainda muito fracos.
A indústria norte-americana registrou crescimento pela primeira vez em nove meses, no mês de julho. A guinada de 0,5% na indústria contrasta com a queda na confiança do consumidor no mês de agosto, que foi para 63,2 – de 66 em julho -, segundo o índice preliminar da Reuters/Unviversidade do Michigan, divulgado na última sexta-feira.
Brasil
Os bancos brasileiros realizaram movimentos semelhantes nos últimos meses. No primeiro trimestre do ano, o Bradesco vendeu parte das ações da Visanet, o que rendeu R$ 280 milhões ao banco. O diretor de operações da corretora Solidus, Emerson Lambretch, assegura que a situação no Brasil não tem ligação com o que ocorreu com os bancos norte-americanos. “As vendas de ativos pelos banco brasileiros é um operação que já estava programada e compensaram eventuais perdas com créditos duvidosos”, afirma. Para ele, as vendas de parte dos ativos feitas por bancos internacionais foi quase compulsória, em função da crise financeira.