O PT fez uma homenagem, no início da noite desta terça-feira, ao ex-deputado José Genoino (PT-SP), que no momento está em prisão domiciliar, e ao deputado João Paulo Cunha (PT-SP), ambos condenados no julgamento do mensalão. Eles são citados no livro “Lideranças do PT na Câmara, Trajetórias e Lutas, 1980 a 2013”, de Athos Pereira, ex-funcionário da liderança do partido na Câmara, lançado nesta terça-feira. A publicação é recheada de ataques à imprensa e ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Presente na solenidade, realizada em um salão da Câmara, o presidente do PT, Rui Falcão, negou que o evento fosse um desagravo:
– Ninguém está agravado para ser desagravado – disse ele, ao chegar para o lançamento do livro.
Em seu discurso, no entanto, ele homenageou Genoino:
– Às vezes a História nos prega peças. Neste ano foram duas. A primeira foi nos ter privado para sempre da presença física do (Marcelo) Déda. A segunda é a que nos tirou do Parlamento um dos mais brilhantes parlamentares que esse país já teve e que agora está privado de sua liberdade – disse Falcão, em referência a Genoino.
Questionado sobre ataques ao Supremo presentes no livro, o presidente do PT respondeu:
– Deve ser por causa de algumas conclusões do Supremo, de dois pesos e duas medidas – disse ele, sem fazer especificações.
Antes dos discursos foram exibidos dois vídeos em homenagem a Genoino e ao ex-governador de Sergipe, Marcelo Déda (PT), morto na semana passada vítima de um câncer.
Apesar de estar na Câmara, João Paulo não compareceu no evento, embora tenha sido anunciado pelo mestre de cerimônias.
Irmão de Genoino, o líder do PT, deputado José Guimarães (CE), tentou motivar a bancada:
– Não temos razão para ficarmos no canto da parede, entristecidos. Perguntaram: é um desagravo? Não, é um ato de uma bancada que faz História.
O livro questiona o julgamento do mensalão pelo STF e diz que Genoino foi preso “arbitrariamente por ordem de Joaquim Barbosa, presidente do STF”; o classifica como preso político, discurso que vem sendo adotado tanto por Genoino, quanto pelo ex-ministro José Dirceu e pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, também presos.
“Este gesto espetaculoso e ilegal confirma mais uma vez a natureza política da condenação de Genoino e diz muito sobre a utilização eleitoreira do STF para servir a interesses subalternos. O STF tripudiou sobre um homem íntegro, mas a história o absolverá”, diz trecho do livro.
A publicação faz ainda ataques à imprensa ao relatar a renúncia de Genoino à presidência do PT em meio ao escândalo do mensalão. “Desde então ele vem sendo achincalhado, humilhado e ofendido pela imprensa golpista”, diz trecho do livro.
Ao discursar no lançamento, o autor foi na mesma linha e atacou a imprensa mais uma vez:
– A imprensa que maltrata diariamente o PT é a mesma que conspirou e contribuiu para o suicídio de ( Getúlio) Vargas e para o golpe de 1964 – disse Pereira.
O presidente da Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), apareceu quando o evento estava em curso e fez um discurso saudando a trajetória do PT. A relação entre Henrique Alves e os petistas ficou estremecida desde que ele se recusou a barrar a abertura de processo de cassação contra Genoino até que fosse concedida aposentadoria por invalidez ao então deputado. Com isso, Genoino acabou renunciando ao mandato.