GE reports surge in industrial revenues
21 de outubro de 2011Líderes discutem novo acordo para votação dos royalties do petróleo
25 de outubro de 2011O trabalho no Brasil não se tornou mais produtivo ao longo dos
últimos 30 anos. A produtividade do trabalho, fator fundamental do
crescimento econômico sustentado, caiu entre 1980 e 2008. De lá para cá,
o indicador recuou na crise global, depois se recuperou rapidamente,
mas parou de crescer a partir do segundo semestre de 2010.
“O Brasil é um país no qual, não importa como se meça a
produtividade, nada parece acontecer”, diz José Alexandre Scheinkman,
economista brasileiro da Universidade Princeton.
Em 1980, um trabalhador brasileiro produzia em média o equivalente a
US$ 21 mil por ano. Em 2008, esse número havia caído para US$ 17,8 mil.
Houve, portanto, queda de 15% no período. Esses dados fazem parte da
Penn World Table, banco de dados do Centro para Comparações
Internacionais de Produção, Renda e Preços da Universidade da
Pensilvânia, com indicadores econômicos de 189 países e territórios.
Os números vão até 2008 para a maioria dos países, inclusive para o
Brasil. Os valores da Penn World Table sobre a produtividade do trabalho
são todos convertidos para dólares de 2005, com paridade de poder de
compra (PPP). Isso significa que a diferença de custo de vida entre os
diferentes países é eliminada.
Entre os 150 países da Penn World Table com dados completos de
produtividade do trabalho entre 1980 e 2008, o Brasil está em 130.º em
termos de desempenho neste período.
O Brasil só ganha de 21 países, sendo 11 da África, incluindo Costa
do Marfim, Malawi, Somália, Camarões, Togo e Zimbábue. Todos os outros
países africanos tiveram desempenho melhor do que o Brasil.
Na América Latina, a evolução da produtividade do trabalho brasileira
nas últimas três décadas só não é pior do que a apresentada por
Paraguai, Venezuela, Nicarágua e Haiti.
Comparado a outras grandes economias emergentes, ou a países
sul-americanos como Argentina e Chile, o Brasil tem o pior desempenho na
produtividade do trabalho entre 1980 e 2008.
A Argentina saiu de US$ 21,2 mil para US$ 24,8 mil (alta de 17%). O
Chile, de US$ 15,1 mil para US$ 27,5 mil (82%). A China, de US$ 1,2 mil
para US$ 10,9 mil (778%). A Índia, de US$ 2,8 mil para US$ 7,8 mil
(181%). E a Coreia, finalmente, de US$ 14 mil para US$ 50 mil (256%).
Scheinkman nota ainda que, como proporção da produtividade do
trabalho dos Estados Unidos, o desempenho brasileiro nas últimas décadas
também é muito ruim. “Os Estados Unidos são a fronteira, e o Brasil não
está se aproximando”, ele diz.
Na verdade, o Brasil convergiu na direção dos Estados Unidos entre
1950 e 1980, e depois recuou de novo até 1988. Assim, a produtividade do
trabalho no Brasil era 18% da americana em 1950, avançou até 40% em
1980 e voltou para 21% em 2008.
Em comparação, a Coreia saiu de 14% da produtividade do trabalho
americana em 1953 (primeiro ano com dados na Penn World Table) para 27%
em 1980 e 60% em 2008. É interessante notar que, entre 1950 e 1980, o
Brasil avançou mais rápido do que a Coreia.
Tanto os dados do Brasil quanto da Coreia do Sul são da Penn World
Table, em PPP, e diferem dos valores do gráfico ao lado, do Conference
Board, embora a tendência seja a mesma.
Para Scheinkman, a má performance brasileira deve-se a deficiências
de educação e infraestrutura, à integração ainda baixa com a economia
global, à baixa absorção de tecnologia, à falta de inovação em muitos
setores e às dificuldades burocráticas para formalizar ou aumentar o
tamanho das empresas.
Ele nota que programas como o Simples, que aliviam a tributação para
as pequenas empresas, ajudam na formalização mas se tornam um
desincentivo ao crescimento. “As empresas não ganham a escala necessária
para se tornarem mais produtivas, trocando-se um problema pelo outro.”
Scheinkman ressalva, porém, que a agricultura é um setor em que a
produtividade teve grandes avanços no Brasil. “As pessoas reclamam da
agricultura, mas não percebem que ela vai muito melhor que os outros
setores em termos de produtividade”, ele diz.
O economista Samuel Pessôa, da consultoria Tendências, acha que uma
série de fatores interrompeu o bom desempenho da produtividade do
trabalho no Brasil a partir do início da década de 80.
Um dos mais básicos foi a evolução da tecnologia a partir de meados
dos anos 70, que começou a exigir trabalhadores com melhor qualidade
educacional.
“Aquele milagre brasileiro no pós-guerra, em um país de baixíssima
escolaridade, sem nenhum investimento em educação, se dissipou, porque a
tecnologia mudou na direção de requerer capital humano, que era
exatamente o que não tínhamos e ainda não temos”, diz Pessôa.
