As tensões com as manifestações populares contra o governo da Líbia, na África, responsável por 10% do abastecimento do petróleo europeu, fizeram o preço do barril tipo Brent disparar mais de 5% e superar os US$ 108 – o maior valor desde setembro de 2008, no início da crise financeira mundial. Segundo especialistas, a alta não deve ser repassada ao consumidor brasileiro.
O analista de investimentos da Geração Futuro Lucas Brendler explica que, diferentemente do que ocorre em outros mercados, como nos Estados Unidos, a volatilidade do custo do barril do petróleo não é repassada ao preço dos principais derivados, como gasolina e diesel. “A Petrobras faz um controle efetivo preocupada com a inflação”, afirma. Entretanto, para ele, caso os preços mantenham a tendência de alta, fica insustentável segurar os valores.
Outra preocupação do mercado são as tensões no Irã, segundo maior produtor da Organização de Países Exportadores de Petróleo (Opep). Há ainda temor de que o maior produtor da Opep, a Arábia Saudita, sucumba à instabilidade, embora o regime saudita não tenha enfrentado protestos. A Líbia responde por 2% do petróleo extraído no mundo, mas o setor é fundamental para sua economia, representando 25% do seu Produto Interno Bruto (PIB). Em meio à crise, a petrolífera britânica BP anunciou que pretende retirar seus 140 funcionários do país.
Outro baque foi o rebaixamento do rating (nota de risco) da Líbia de longo prazo em moeda local e estrangeira, de BBB para BBB, pela Fitch Ratings. A nota foi colocada ainda em revisão negativa. Também no rastro das bolsas europeias, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou em queda de 1,19%, aos 67 258,66 pontos, com a tensão no Norte da África e no Oriente Médio. As bolsas americanas não funcionaram ontem devido a feriado local.
A Opep, segundo o ministro de Petróleo dos Emirados Árabes Unidos (EAU), Mohammad Al-Hamli. está pronta a oferecer mais petróleo ao mercado se for preciso. “Há ampla oferta e estamos prontos a fornecer mais petróleo em caso de necessidade”, disse.
PETROBRAS O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, afirmou ontem que o preço da gasolina no país está abaixo do praticado no mercado internacional. O executivo afirmou que não vai alterar a política de preços. “Não vamos repassar oscilações no curto prazo. Toda vez que há uma instabilidade no mercado futuro repassamos para os preços, mas isso só é avaliado dentro de uma política de longo prazo”, declarou. Gabrielli defendeu ainda a construção das novas refinarias como forma de amenizar a atual situação de oferta de combustíveis no Brasil. Segundo ele, a capacidade de refino nacional está “no limite”. (Com agências)
BATE-BOCA
Acabou em discussão a polêmica que ainda envolve o processo de capitalização da Petrobras. O economista-chefe do Santander, o ex-diretor do BC Alexandre Schwartsman, chamou de “contabilidade criativa” a cessão onerosa de 5 bilhões de barris da União à petrolífera, durante um seminário no Rio. O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, defendeu o processo e disse que Schwartsman tinha chamado “indiretamente” o processo de contabilidade criativa. “Não foi indireto não, porque é verdade”, retrucou o economista.