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14 de dezembro de 2009O giro de negócios dobrou ontem no mercado futuro de juros da BM&F. Foram movimentados quase 1,3 milhão de contratos. Os investidores precisaram ajustar as suas posições o melhor possível a dois fatores contraditórios entre si: a nota pós-Copom e o PIB mais fraco. Escrita aparentemente com a intenção de preparar o mercado e a sociedade para uma inevitável alta da Selic em algum momento de 2010, a nota não surtiu o efeito de provocar ajustes para cima nas projeções de juros do mercado futuro. O impacto do comunicado foi completamente anulado pelos dados do PIB do terceiro trimestre. E, ao invés de subir, os juros futuros caíram.
Os analistas foram dormir na noite de quarta-feira convencidos de que o Banco Central estaria propenso a descongelar a taxa básica mais cedo do que previa a média do mercado. Essa suspeita foi suscitada pela inclusão de dois novos termos ao comunicado. Este é idêntico aos divulgados após as reuniões de 2 de setembro e 21 de outubro, exceto por duas condicionantes. O redator da nota acrescentou as palavras “remanescente”, ao se referir à ociosidade dos fatores de produção, e “neste momento”, quando faz referência à consistência do patamar de juros de 8,75% com o cenário benigno de inflação.
Embora suaves, tais alterações acenderam um sinal amarelo nas mesas de operações, pois poderiam dar razão à corrente (minoritária) que estava prevendo uma alta da Selic no segundo Copom de 2010, o que se reunirá em 17 de março. O crescimento decepcionante do PIB no terceiro trimestre de 2009 de 1,3%, ante projeção consensual de 2% – esfriou os ânimos desse pessoal. E reforçou a ala dos mais comedidos em termos de política monetária e previsão de expansão econômica, os que só falam em ajuste da Selic no penúltimo Copom de 2010, o de 20 de outubro (se, é claro, o processo eleitoral deixar). Nem foi tanto o crescimento aquém do esperado o que provocou a queda dos juros futuros. O contrato para o fim do ano que vem cedeu de 10,45% para 10,36%, enquanto o swap de 360 dias recuou de 10,33% para 10,22%.
Se o PIB não está mesmo sancionando as expectativas mais otimistas, de uma expansão entre 6% e 6,5% no ano que vem, o BC não precisa ter pressa em descongelar a Selic também por causa de duas ótimas notícias, do ponto de vista inflacionário, trazidas pelos dados divulgados ontem pelo IBGE. O investimento não está tão deprimido quanto se lamentava e o consumo não se mostra tão explosivo quanto se temia. “Os dados do PIB mostram que o hiato do produto deve fechar não mais no segundo trimestre de 2010, mas sim no quarto trimestre. Isto sugere que a política monetária deve permanecer expansionista (juros no atual patamar) durante mais tempo que o esperado”, diz o economista-chefe da Gradual Investimentos, Pedro Paulo da Silveira.
As estimativas dos economistas de “quando” o Copom irá aumentar a Selic estão vinculadas ao “tamanho” da recuperação econômica. Em geral, os que previam expansão econômica em 2010 superior a 6% clamavam por um aperto monetário já no final do primeiro trimestre do novo ano. Os céticos para os quais seria mais prudente prever uma retomada em torno de 5% sugerem o segundo semestre como o melhor momento para o ajuste. Os dados do PIB já alteram o “momento”, e podem, em breve, mudar a magnitude do ciclo de arrocho. Mas, antes disso, o mercado quer ler a ata da reunião de anteontem, a ser publicada no dia 17. Por enquanto, os analistas mantêm a expectativa média de uma alta na Selic entre 150 e 300 pontos-base. Mas não se descarta até que o Copom faça apenas movimentos monetários pontuais destinados unicamente a retirar o caráter expansionista da taxa, descaracterizando a inauguração de um ciclo de aperto. Tudo depende, em última instância, do cenário internacional.
O desempenho brasileiro foi contido pela surpreendente retração das exportações. A sua evolução recuou de 7,14% no segundo trimestre para 3,45% no terceiro. As importações caíram menos. Isso reflete a recessão externa e a taxa cambial apreciada. Se o mundo retomar o crescimento, as exportações crescerão e a inflação só não sofrerá com isso se o real valorizado autorizar importações compensatórias. Um certo relaxamento das tensões externas derivadas do temor de uma nova onda mundial de calotes permitiu ao dólar cair contra o real depois de dois dias de fortes altas. Fechou ontem cotado a R$ 1,7660, em queda de 0,28%.
