Junho se iniciou com um firme movimento de busca de lucros em ativos de risco. Indicadores de atividade positivos divulgados sobre o desempenho das economias dos EUA, China, Reino Unido e Zona do Euro, o alívio trazido pelo fim da novela agônica da GM e a alta das commodities (o petróleo subiu 3,42% em Nova York, para US$ 68,58, maior preço do ano) promoveram um arrefecimento da aversão global a risco. A baixa demanda por títulos do Tesouro americano fez a taxa do papel de 10 anos disparar de 3,4576% para 3,6706%. A consequência foi o tombo de 8,78% registrado ontem pelo risco-Brasil, calculado pelo JP Morgan com base na cotação dos títulos da dívida externa. Ele está agora em 270 pontos-base.
O Brasil é um dos mercados emergentes mais beneficiado pela distensão da crise externa. Nos últimos 30 dias, o risco-país já caiu 24,58%. E, no acumulado do ano, 36,47%. A simpatia pelo risco mostrada ontem pelos grandes investidores internacionais ampliou a apreciação do real frente ao dólar. A moeda americana caiu ontem 0,86%, para R$ 1,9530. Para suavizar a queda do dólar só resta ao Banco Central manter em ritmo acelerado o declínio dos juros, já que são remotas as chances de uma taxação pelo IOF do ingresso de capital estrangeiro e mais distante ainda a possibilidade de imposição de um controle de capitais mais abrangente. A taxa do swap de 360 dias caiu de 9,33% para 9,26%, novo recorde nominal de baixa. O juro real – de 5,04% acima da projeção de IPCA para o mesmo periodo, de 4,02% – também é recorde.
As projeções feitas por cem instituições ao Boletim Focus do BC não primaram pela coerência. Se o mercado está ampliando a sua expectativa de recessão para o ano – agora, o PIB cairá 0,73% ao invés do 0,53% da pesquisa anterior – e se reduziu de R$ 2,10 para R$ 2,04 a taxa de câmbio para o fim de dezembro, seria natural e lógico esperar por IPCA mais baixo, o que tornaria necessário um desaperto monetário mais intenso. Mas, paradoxalmente, o Focus não só sustentou os prognósticos de inflação para 2009, próximos 12 meses e 2010 – em 9,33%, 4,02% e 4,30%, respectivamente – como manteve as estimativas de Selic em 9% este ano e 9,25% no próximo. Apesar de incoerente, o Focus foi invocado como argumento para a baixa dos contratos futuros de juros.
O CDI para o final do ano recuou de 9,19% para 9,11%. A taxa para janeiro de 2011 cedeu de 9,71% para 9,62%. E o contrato para janeiro de 2012 caiu de 10,61% para 10,56%. Além do câmbio e do Focus, dois outros fatos contribuíram para o declínio dos juros. O primeiro foi sobre atividade. A produção industrial brasileira subiu 1,1% de março para abril, menos do que esperavam os bancos. E, em relação à igual período de 2008, a queda foi de 14,8%. De janeiro a abril deste ano a queda da produção industrial foi de 14,7% comparativamente ao primeiro quadrimestre de 2008. O segundo foi sobre inflação. O IPC-S de maio desacelerou para 0,39%, segundo a FGV.
A queda sofrida ontem pelo dólar foi a sétima seguida. Nesse período, a moeda já se desvalorizou 4,12%. No ano, a baixa foi de 16,32%. Ou seja, o investidor que entrou com US$ 100 mil no dia 30 de dezembro e ficou com eles no colchão, mandou embora ontem US$ 116.320,00. Quem se deu ao extenuante trabalho de aplicar o dinheiro em CDI ganhou mais 4,55% de abril a maio e remeteu, na verdade, US$ 121.612,56.
A consultoria MB Associados acredita que, numa situação de normalidade, em que prevaleça a ideia de que o pior da crise já passou, a tendência é de apreciação adicional do real. “Não podemos esquecer que antes da crise a taxa de câmbio passou cinco anos apreciando-se continuamente, ajudada em muito por uma política econômica sólida”, diz o economista-chefe da consultoria, Sergio Vale. Quando o mundo retorna à normalidade, é natural esperar que essa tendência volte a aparecer. O que poderia impedí-la ? A política monetária poderia ser mais agressiva a baixar mais rapidamente a Selic, diminuindo sensivelmente os ganhos de arbitragem. Mas isso, no entender de Vale, não deverá acontecer e o BC provavelmente continuará com uma política gradual. O BC pode mudar a velocidade de queda da Selic, mas não pode alterar o nível da taxa de juros. Isto só acontece por meio de mudanças estruturais, fim do resto de indexação da economia e reformas econômicas.