Ao atuar como apaziguador no debate entre o promotor de Justiça Marcelo Mendroni e o advogado criminalista Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, sobre as prisões preventivas como forma de combater a corrupção, durante o quinto Fórum Estadão, nesta quarta-feira, 25, em São Paulo, o juiz federal Sérgio Moro, da Operação Lava Jato, afirmou que \”por certos radicalismos, perdemos a capacidade de diálogo\” no Brasil.
\”Só para esclarecer, estamos fazendo essa discussão no mais absoluto nível de respeito\”, disse o juiz ao citar que os três participantes do debate, realizado pela manhã, se conheciam pessoalmente, tinham uma relação de \”profundo respeito\” e seria \”muito fácil fazer as discussões\” sem exaltação.
\”Todas as posições são respeitáveis, o diálogo é muito importante, nós perdemos um pouco no Brasil essa nossa… por certos radicalismos, perdemos a capacidade de diálogo\”, disse Moro, que deixou claro que a crítica não era dirigida aos parceiros de debate.
O evento abordou os caminhos para reconstrução do País. No painel sobre corrupção, o debate esquentou quando Mendroni colocou no mesmo padrão um \”serial killer\”, que comente assassinatos em série, e um corrupto contumaz.
\”Eles não param de praticar corrupção se eles não vão para a cadeia\”, afirmou Mendroni, ao defender a prisão preventiva como forma de combate à corrupção.
\”Na minha opinião esse tipo de gente, que pratica esse tipo de corrupção, se equipara indiretamente a um serial killer\”, afirmou o promotor. \”Um serial killer mata as pessoas diretamente, enquanto que o corrupto desse viés mata as pessoas indiretamente. Porque esse dinheiro que ele rouba dos cofres públicos falta depois na saúde, no transportes, em todas as assistências sociais.\”
Mendroni afirmou: \”A diferença que eu vejo entre um serial killer e um corrupto dessa natureza, principal, é que o corrupto é mais covarde que um serial killer\”.
E Mariz intercedeu: \”Eu também quero ele na cadeia, só que eu queria saber como o senhor vai descobrir logo no início das investigações se alguém é culpado ou se é inocente se ele não se defendeu?\”.
\”Ora doutor, o que é isso?\”, questionou Mariz, em tom de indignação.
Mendroni continuou sua explanação sobre o direito de prender e Mariz a sua sobre a inconformidade da medida, fora do microfone.
Foi quando, em um quebra-clima Moro entrou na discussão: \”Eu como juiz vou interferir no conflito entre o Ministério Público e a advocacia\”.
O jornalista do Estadão José Fucs, mediador do debate, no tom dos risos que dissiparam o \”climão\”, brincou: \”Por favor doutor Moro, fique à vontade aí\”.
O tema do debate foi \”Mais governança e mais segurança\”. O evento foi divido em dois painéis: o da manhã \”O Combate à Corrupção\” contou com Moro, Mariz e Mendroni; o da tarde \”Alternativas à Segurança Pública\” teve a presença do ex-secretário nacional de Segurança Pública Raul Jungmann, o coronel reformado da Polícia Militar José Vicente da Silva Filho e o diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima.
Durante o primeiro painel, Sérgio Moro afirmou que a execução de pena em segunda instância \”foi um passo fundamental\” para que a Justiça penal seja efetiva e prospere o combate à corrupção. Para o magistrado, não há como a Justiça funcionar \”sem que os processos cheguem ao fim\”.
No debate, Mariz sugeriu ainda que a execução provisória de pena esperasse uma decisão do Superior Tribunal de Justiça. Em sessão no Supremo Tribunal Federal, o ministro Dias Toffoli já havia feito essa sugestão.
Na avaliação de Moro, a sugestão \”não resolve\”. De acordo com o juiz da Lava Jato, a Corte superior tem \”nível absurdo\” de processos. \”Solução intermediária não resolve, permanecemos no mesmo quadro\”, afirmou.
O promotor Marcelo Mendroni avalia que a prisão em segunda instância \”é tardia\”. O investigador defende prisão preventiva \”desde logo\” e o bloqueio de bens. \”Prisão faz com que cesse a prática do crime\”, disse.