O plano econômico da pré-candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), condenado e preso na Operação Lava Jato, à Presidência da República nas eleições 2018 passa pela reversão de medidas recentes, como a adoção do teto de gastos e a reforma trabalhista, com redução da volatilidade do câmbio, incentivo ao crédito e ao emprego em setores como a construção civil. Os detalhes foram anunciados pelo assessor econômico do PT, Guilherme Mello.
\”Temos de dar emprego, gerar renda e crédito. Assim, a roda da economia volta a girar. O plano de Lula é o contrário do que o governo Michel Temer tem feito\”, disse.
Em debate com os assessores econômicos dos pré-candidatos à Presidência na Universidade de Brasília, Mello defendeu que o Brasil não pode esperar para retomar o crescimento e, por isso, a candidatura Lula tem um plano emergencial para a questão do emprego. \”O plano emergencial para o emprego e a renda é fundamental. Em particular onde (o emprego) foi destruído, como a construção civil\”, disse, ao citar que há pelo menos 7.400 grandes obras públicas paradas. \”Basta o Estado retomar as obras, ao retomar o papel de investir em infraestrutura, e conseguiremos uma série de empregos, milhões de empregos, para girar o circuito da renda\”.
Além do plano emergencial, o assessor do PT disse que a proposta de eventual governo Luiz Inácio Lula da Silva \”tem um plano estrutural e de revogação de uma série de atrasos que foram aprovados recentemente no governo Michel Temer\”. Mello citou como exemplos a emenda constitucional que criou o teto de gastos e a reforma trabalhista. Outra medida a ser revogada é a retomada do regime de partilha no petróleo com recursos direcionados a um fundo para educação e ciência e tecnologia.
Para o economista, o teto de gastos fará com que o Estado brasileiro diminua a um tamanho comparável a de Estados africanos \”que não conseguem oferecer nada, como saúde ou educação\”. \”O teto é um projeto de desconstrução da nossa Constituição\”, disse. Sobre a reforma trabalhista, o assessor de Lula diz que a mudança \”dilacerou a cidadania e os direitos trabalhistas\”. \”Incentiva a \’pejotização\’ e enfraquece a Previdência\”.
Ao mesmo tempo em que reverte medidas recentes, eventual governo Lula atacaria \”um dos mais voláteis regimes cambiais do mundo\”. A ideia defendida pelo assessor econômico do PT é ter um regime cambial mais estável. \”Temos de ter estabilidade do câmbio em patamar competitivo ajuda estrutura produtiva\”, disse, ao lembrar que o mercado brasileiro de derivativos é um dos maiores do mundo. \”Nossa moeda é alvo de especulação. Temos de reduzir volatilidade do câmbio\”, disse.
Outra mudança proposta é a reforma tributária com duas diretrizes: carga tributária estável e distribuição federativa estável. Mello defende um modelo mais simples e progressivo em uma reforma que \”eliminaria dois entraves\” do debate. Nesse pacote, pessoas com renda de até cinco salários mínimos seriam isentas do Imposto de Renda e haveria taxação de heranças.
Por fim, o economista defende a mudança das diretrizes do mercado de crédito. \”O crédito brasileiro é escasso e caro. Os bancos públicos devem parar de agir como um oligopólio e devem se comportar como banco público\”, disse.
O programa econômico do PT também propõe usar até US$ 40 bilhões das reservas internacionais para financiar a infraestrutura e rever as diretrizes do regime de metas de inflação.
\”Podemos tranquilamente pegar uma parte das reservas e recursos do BNDES para criar um fundo que, junto com capitais privados, vão financiar obras de infraestrutura\”, disse Mello ao ser questionado sobre como eventual governo do PT financiaria a retomada de projetos de infraestrutura. \”Temos de US$ 30 bilhões a US$ 40 bilhões de excesso de reservas internacionais. É um colchão que custa caro\”, disse.
O assessor do PT também defendeu uma reforma monetária com mudança de regras do regime de metas de inflação. \”O nosso regime de metas de inflação é o mais rígido do mundo. Os juros não são a dança da chuva. Se quebrar uma safra do tomate pela seca, não adiante subir juros\”, comparou, ao lembrar que vários países que usam o regime de metas adotam parâmetros diferentes, como o núcleo da inflação, e não um índice amplo como o IPCA.
\”Isso (a rigidez do regime de metas) transforma os juros em algo muito volátil\”, defendeu Mello, ao citar que eventual governo petista também adotaria políticas de desindexação. \”O que ajuda a estabilizar a inflação e a taxa de câmbio\”.