Após perder o grau de investimento pela Moody’s e sem poder recorrer ao mercado para fazer novas captações por não ter publicado seu balanço auditado, a Petrobras decidiu vender US$ 13,7 bilhões (cerca de R$ 39,5 bilhões) em ativos neste ano e em 2016. Esse valor é bem superior aos US$ 3 bilhões que a gestão anterior, comandada por Maria das Graças Foster, previa desinvestir até o fim de 2015. Em comunicado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a estatal, presidida por Aldemir Bendine desde o início de fevereiro, informou que 40% desse valor são da área de Gás e Energia. Em seguida, vêm os segmentos de Exploração e Produção no Brasil e no exterior, com 30%, e Abastecimento, também com 30%.
A estatal informou que o objetivo é preservar seu caixa e reduzir seu endividamento líquido, hoje em R$ 261,4 bilhões. Segundo fontes do setor, a Petrobras pretende vender campos de petróleo no pós-sal da Bacia de Campos, áreas maduras com produção em terra, participações em blocos no exterior e algumas plataformas de petróleo. Na lista, destacou uma fonte, está ainda a venda de parte das atividades na Argentina, onde a estatal tem diversos ativos, como campos de petróleo e postos de gasolina. A empresa, disse outra fonte, ainda pretende se desfazer da refinaria de Okinawa, no Japão, e de pequenas centrais hidrelétricas.
— A Petrobras está sem seu grau de investimento e em uma situação delicada neste momento. A companhia precisa fazer caixa urgente. O valor de desinvestimento é expressivo, mas é necessário vender, mesmo que a preços mais baixos por conta do preço do petróleo. É uma decisão dura, mas que precisa ser feita. Mas é importante saber quais ativos a companhia vai vender. Antes, a empresa falava que o pré-sal era invendável, como vai ficar isso agora — disse Pedro Galdi, analista de investimento da Independent Research.
Em nota, a Petrobras informou que o plano de venda de ativos tem como objetivos principais a redução de seu endividamento e preservação do seu caixa para concentrar investimentos em projetos prioritários, de retorno maior e mais rápido, “notadamente de produção de óleo e gás no Brasil em áreas de elevada produtividade”. Segundo fontes técnicas, os projetos que receberão prioridade máxima são os de desenvolvimento da produção nos campos do pré-sal.
— A empresa vai ter dificuldade para vender seus ativos no momento atual, pois atravessa um momento de falta de credibilidade. Mesmo que consiga, vai vender os ativos abaixo do preço, e isso vai prejudicar seu fluxo de caixa — disse Fabio Rhein, professor de finanças corporativas do Ibmec-RJ.
BENDINE CRIA SALA DE GESTÃO NA SEDE
A estatal destacou também que, conforme aprovado em reunião de diretoria em 26 de fevereiro, o valor também é maior que a projeção feita para o Plano de Negócios 2014/18, que previa venda entre US$ 5 bilhões e US$ 11 bilhões. A estatal também ressaltou que o valor de US$ 13,7 bilhões poderá mudar, dependendo de variáveis de mercado, como a cotação do petróleo e da taxa de câmbio.
Nesta segunda-feira, a petrolífera informou ainda que seu Conselho de Administração, na reunião realizada em 27 de fevereiro, aprovou a contratação da PricewaterhouseCoopers (PwC) para prestação de serviços de auditoria contábil nos exercícios de 2015 e 2016.
Uma fonte próxima à companhia disse que o novo plano de desinvestimento reflete a mudança na gestão. Segundo essa fonte, Bendine é descentralizador, diferentemente de Graça Foster. Uma das medidas em andamento é o fim da Diretoria Internacional, que até então era acumulada pela ex-presidente. Essa fonte afirmou que Bendine está distribuindo as várias funções dessa área para outras diretorias, como a de Exploração e Produção e a de Governança. E disse ainda que, na opinião de Bendine, a Petrobras não necessita de uma Diretoria Internacional.
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No pouco tempo em que está à frente da estatal, envolvida em uma crise profunda por causa do escândalo de corrupção, Bendine resolveu criar uma Sala de Gestão no 23º andar do edifício-sede, no Centro do Rio, no mesmo andar onde ficam os gabinetes do presidente e dos diretores. Nessa sala, os executivos deverão passar a maior parte do tempo discutindo projetos. Segundo a Petrobras, a Sala de Gestão visa a “integrar ainda mais as atividades da companhia e fortalecer a governança”.
Bendine é contra reuniões como na época de Graça, que chegavam a durar até dez horas. Por isso, disse a fonte, o novo presidente determinou que as reuniões não passem de duas horas, com os diretores se limitando a apresentar duas pautas cada um. Agora, são feitas reuniões diárias informais, nas quais os diretores discutem os assuntos mais importantes a tratar. Bendine costuma trabalhar das 9h às 18h.
— Graça chegava às 7h e saía às 21h ou 22h. E de madrugada ainda ligava para os executivos. Como ele não é concentrador, muitas áreas que estavam ligadas à presidência foram distribuídas. Na presidência ficaram apenas as áreas de Secretaria-Geral, Auditoria e Gapre (Gabinete da presidência) — disse a fonte.