A conjuntura de estagnação econômica e pessimismo generalizado pode detonar uma nova onda de incertezas nos mercados, com impacto direto sobre a cotação do dólar. Nessa terça-feira, pelo segundo dia consecutivo, a moeda norte-americana encerrou o pregão em alta. Após avançar 1,16% na véspera, a moeda aumentou os ganhos em mais 0,91%, sendo cotada a R$ 2,286 para a venda – o maior valor em duas semanas.
Nas mesas de operações dos grandes bancos e corretoras de câmbio, o temor é que um aprofundamento do colapso de confiança com o Brasil, que já era grande, possa levar a uma fuga de dólares no país, com investidores se desfazendo de aplicações na bolsa e em títulos públicos para buscar ativos mais seguros, em países como Estados Unidos. Com a saída de recursos, o dólar fica mais caro no país. “Se tem mais gente querendo comprar do que banco querendo vender dólar, a cotação sobe. É a velha regra da oferta e da demanda”, sintetizou o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito.
Movimento parecido já ocorreu em agosto, quando deixaram o país US$ 3 bilhões. Foi a maior saída de recursos já registrada desde dezembro de 2013, quando o fluxo cambial ficou negativo em US$ 8,8 bilhões. Quando os investidores batem em retirada, eles precisam vender seus ativos em reais e comprar o equivalente em dólares.
Até agora, só não faltou moeda para conversão porque o Banco Central (BC) tem municiado os bancos privados e públicos com bilhões de dólares, por meio de empréstimos conhecidos como leilões de swaps. A capacidade dos bancos de atender a essa demanda é, hoje, de aproximadamente US$ 19 bilhões. Outros US$ 18 bilhões também estão disponíveis, por meio de uma linha de crédito imediato para saques à vista.
É ainda pouco, perto da demanda esperada para os próximos meses pelo economista Sidnei Nehme, da NGO Corretora, um dos maiores especialistas em câmbio do país. “Nós não sabemos até quando os bancos vão manter essas posições vendidas em dólar”, questiona.
O maior problema, disse Nehme, é que os bancos precisam ganhar dinheiro para se manterem firmes nesse negócio. Senão, nada feito. “O que os bancos fazem é vender os dólares sem tê-los, necessariamente. Então, quando há um pedido do cliente, eles usam linhas de financiamento, ou do Banco Central, ou junto a instituições financeiras internacionais, que praticam juros maiores. Grosseiramente, é como se fosse uma conta de cheque especial”, explicou.
Seja qual for o resultado das urnas este ano, observou Nehme, a tendência do dólar nos próximos meses é de valorização. “O problema do câmbio é muito mais extenso, e não se resolve com a simples mudança do titular da cadeira (presidencial)”, disse. O especialista aposta que o fluxo cambial voltará a ficar negativo, em função, também, do cenário internacional adverso, com investidores fugindo do risco em países emergentes. É um movimento que já foi observado, não só em agosto, mas também em julho. Naquele mês, as saídas de dólares superaram as entradas em US$ 1,7 bilhão. No ano, as perdas já chegam a US$ 5,8 bilhões.
Uma piora desse quadro, disse o analista, poderia levar o BC a ter que ofertar dólares diretamente no mercado à vista, queimando parte das reservas internacionais – o que não acontece desde o estouro da crise financeira mundial, em 2009.