O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, vai indicar todos os políticos que deverão ser indiciados ou investigados no bloco de denúncias relativas à Operação Lava-Jato que vai apresentar em fevereiro ao Supremo Tribunal Federal (STF). O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa citou 28 políticos beneficiários do esquema de pagamento de propina na estatal, durante depoimentos feitos no acordo de delação premiada assinado com o Ministério Público Federal (MPF). Janot participou ontem da abertura dos trabalhos do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e, à tarde, fez a primeira reunião com o grupo que criou para auxiliá-lo nas investigações.
Ainda não está certo se as primeiras denúncias e pedidos de abertura de inquérito serão apresentadas antes ou depois do carnaval, que começa em 14 de fevereiro. Na Procuradoria, o mês é tido como limite para o envio do material. Janot quer encaminhar todos os inquéritos e denúncias ao mesmo tempo para o STF. A ideia é “tirar o peso” da Lava-Jato das costas da PGR. A partir daí, caberá à Corte conduzir as decisões sobre a investigação de autoridades e parlamentares com foro privilegiado.
Até o momento, os casos que chegam ao STF referentes à Lava-Jato têm permanecido em segredo de Justiça, como as delações premiadas de Costa e do doleiro Alberto Youssef. Nos inquéritos contra políticos, contudo, o sigilo não será a regra. O procurador-geral deseja pedir segredo de justiça apenas quando a publicidade do processo atrapalhar a produção de provas.
NOVOS INQUÉRITOS A Polícia Federal abriu mais 10 inquéritos para investigar a possível participação de empreiteiras nas possíveis fraudes em contratos da Petrobras As empresas investigadas são a MPE Montagens e Projetos Especiais, Alusa Engenharia, Promon Engenharia, Techint Engenharia e Construção, Construtora Andrade Gutierrez, Skanska Brasil, GDK, Schain Engenharia, Carioca Christiani Nielsen Engenharia e Setal Engenharia Construções e Perfurações. O delegado responsável pelo caso levou em conta os depoimentos do doleiro Youssef e a análise de diversos documentos, como recibos e comprovantes de depósitos que comprovariam a ligação entre essas empresas e outras pessoas investigadas na Operação Lava-Jato.
BLOQUEIO MILIONÁRIO A Operação Lava-Jato já bloqueou R$ 118,8 milhões das contas de 16 pessoas e três empresas investigadas pelo Ministério Público e pela Polícia Federal. Os dados são de levantamento feito por servidores da 13ª Vara Federal de Curitiba, onde corre o processo. Apesar disso, o valor pode ser maior, já que alguns saldos de contas correntes não foram informados ao juízo.
Apenas quatro investigados respondem por R$ 77,4 milhões, 65% do dinheiro bloqueado: o vice-presidente da Engevix, Gerson de Mello Almada (R$ 37 milhões); Idelfonso Collares, ex-presidente da Queiroz Galvão (R$ 18 milhões); Agenor Franklin de Medeiros, diretor da OAS (R$ 11,9 milhões); e Ricardo Pessoa, presidente da UTC Constran (R$ 10,5 milhões).
Ontem, a Justiça autorizou a internação de Erton Medeiros Fonseca, executivo da Galvão Engenharia, na quinta-feira para retirada de lesões provocadas por um melanoma – tumor maligno. Segundo a defesa, ele já estava em tratamento, que foi interrompido após ser preso, em 14 de novembro.
PROPINAS Novos vazamentos de trechos de depoimento de Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef revelam que o ex-diretor de Abastecimento da estatal afirmou na delação premiada que o executivo Rogério Santos de Araújo, diretor da Odebrecht Plantas Industriais e Participações, sugeriu a ele que “abrisse conta no exterior” para receber propinas da empresa de US$ 23 milhões. Segundo Costa, o diretor da Odebrecht “mandou depositar o valor integral, entre 2008 e 2009”. A construtora fechou contrato bilionário com a Petrobras em 2009. A empresa nega.
Já Youssef contou que, no ano passado, o chefe da Casal Civil do governo Roseana Sarney (PMDB) no Maranhão, João Abreu, recebeu R$ 3 milhões de propina pagos pela construtura UTC Constran, uma das empreiteiras investigadas na Lava-Jato. O doleiro afirmou que entregou, momentos antes de ser preso, em 17 de março de 2014, uma mala com R$ 1,4 milhão num dos quartos do Hotel Luzeiros, em São Luís. O suborno foi repassado a Marco Ziegert, emissário de João Abreu. O acerto, de acordo com o delator, seria para o governo do Maranhão aceitar pagar precatório da UTC/Constran de R$ 113 milhões em 24 parcelas. A dívida referia-se a obras de uma rodovia construída pela empreiteira nos anos 1980. No depoimento, o doleiro revela que a propina acordada foi de R$ 10 milhões. Roseana, a Constran e João de Abreu negam as acusações.