A expectativa com relação aos leilões de linhas de crédito do Banco Central para rolar a dívida externa das empresas brasileiras derrubou o dólar ontem. O tombo generalizado da moeda americana nos principais mercados do mundo e a venda feita pelo BC ajudaram a puxar para baixo as cotações em mais de 6%. No final do dia, o dólar foi a R$ 2,345, uma queda de 3,53%, a maior desde 24 de novembro. Nos últimos três dias, o dólar teve uma desvalorização total de 6,24%, embora acumule alta de 1,30% no mês e de 31,96% no ano.
\”Os leilões do BC vão ajudar de forma determinante a tirar uma pressão extra do mercado de câmbio\”, diz Clive Botelho, vice-presidente de finanças do Banco Pine. \”A dificuldade de financiamento das contas externas será forte no curto prazo se o BC não fornecer crédito em dólar às empresas e não apenas às exportadoras\”, afirma Roberto Padovani, economista-chefe do WestLB.
\”Estamos sem crédito por uma falha de mercado com a crise externa, não por causa de fundamentos de nossa economia, e a autoridade precisa atuar até que a situação se regularize\”, diz. O Banco de Compensações Internacionais apontou o risco de rolagem de US$ 60 bilhões em dívida externa brasileira que vence em até um ano em um ambiente de crédito em dólar congelado.
O BC já vinha oferecendo linhas para o comércio exterior. Mas, se não ampliasse esse crédito, haveria pressão extra não apenas no câmbio, mas também no mercado interno de crédito, visto que as empresas teriam de rolar essa dívida externa no Brasil.
Para Botelho, as cotações da moeda vão agora poder passar a oscilar de R$ 2,30 a R$ 2,40, diante dos níveis de R$ 2,40 a R$ 2,50 que vinham mantendo no último período. \”A volatilidade, no entanto, continua elevada\”, diz.
\”Para o exportador, a volatilidade é o pior dos mundos\”, completa Padovani. Ele lembra que ontem o dólar já começou caindo por causa do movimento global de depreciação. O euro rompeu a barreira de US$ 1,33 pela primeira vez em sete semanas, informou a \”Bloomberg\”. A queda do dólar foi de 2,2% com relação à moeda da União Européia e de 1% em relação ao iene. A razão: o déficit comercial americano cresceu demais de forma inesperada e o Banco Central Europeu sinalizou que está relutante em continuar a cortar os juros.
Com a cotação do dólar já em baixa no Brasil, o BC entrou vendendo. Primeiro, no mercado futuro. Colocou US$ 1,2 bilhão em \”swaps cambiais\” que rolam vencimento do início de janeiro. Depois, na metade da tarde, entrou vendendo no mercado à vista. O mercado fala em um total de vendas de US$ 265 milhões de dólar \”spot\” pelo BC. O movimento no mercado interbancário foi de US$ 3,165 bilhões.
\”O BC reforçou o movimento do dólar e contribuiu para derrubar mais a cotação\”, diz Padovani. Antes de o mercado fechar, às 16h, os rumores sobre o anúncio oficial do novo leilão de linhas de crédito externas pelo BC, seus detalhes técnicos e valores (os boatos eram de que o total chegaria a US$ 20 bilhões) pressionaram as cotações do dólar ainda mais para baixo.
Clive Botelho lembra que o fluxo cambial da primeira semana de dezembro surpreendeu positivamente o mercado anteontem, depois do susto de outubro e novembro. \”A atuação do BC no mercado à vista, futuro, e no fornecimento de linhas de crédito à exportação tem sido incessante\”, diz Botelho. Além disso, os preços dos commodities vêm mantendo maior sustentação e as bolsas americanas não estão com tendência de queda tão forte, justifica o vice-presidente do Pine.
Sidnei Nehme, sócio-diretor da NGO Corretora de Câmbio, acrescenta mais um fator a determinar as cotações do dólar. Para ele, o câmbio \”continua à mercê do domínio da especulação na BM&F\” o que \”contamina de forma absoluta o preço praticado no mercado à vista\”. As posições compradas líquidas em dólar dos investidores estrangeiros na BM&F estavam a US$ 11,9 bilhões no dia 10, uma queda na comparação com os US$ 13,599 bilhões que chegaram a atingir no dia 8.