Ministros do governo do presidente Jair Bolsonaro admitiram nesta quarta-feira (23), durante uma reunião reservada, erros e atropelos do governo na condução da negociação com a Câmara dos Deputados durante a votação do Fundeb – fundo que financia a educação básica.
Apesar de comemorar nas redes sociais a vitória do Fundeb como uma vitória do governo, um ministro ouvido pelo blog que participou da reunião admite que o governo “tomou um baile” do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que já havia construído maioria pela aprovação do texto da relatora, deputada professora Dorinha (DEM-TO).
Assessores do presidente avaliam que o governo subestimou a experiência e a interlocução de Maia, no terceiro mandato, com a Casa. E apostou que os cargos que havia entregue ao chamado Centrão garantiria a operação preferencial do governo: usar o Fundeb para financiar o Renda Brasil, que ainda não foi criado.
Parlamentares atribuem a dois processos os “erros” do governo na votação do Fundeb:
Paulo Guedes “atropelou” a articulação política e apresentou uma contraproposta ao Fundeb sem debate prévio, o que irritou Maia e deputados;
A promessa de Artur Lira (PP-AL), um dos líderes do Centrão, de que conseguiria adiar e não dar quórum à votação, como queria o Planalto.
Maia, quando soube da operação de Lira e do Planalto, comentou com aliados que era um “erro” escolher a pauta da Educação para medir forças políticas, já que sabia que a Casa dificilmente se omitiria a respeito do Fundeb.
Para aliados de Bolsonaro, a votação do Fundeb fortaleceu mais uma vez Maia, que para o governo estava isolado após Bolsonaro ter entregue cargos ao Centrão, em troca de apoio.
Após o diagnóstico feito pelos governistas, agora, assessores de Bolsonaro cobram alinhamento e sugerem a troca do líder do governo na Câmara, major Vitor Hugo (PSL-GO). Na avaliação de assessores do presidente, Vitor Hugo, por ser novato, não teria experiência para negociar com Maia. “É como colocar um faixa branca, azul para lutar com um faixa preta”, brinca um ministro.
Segundo o blog apurou, assessores do presidente Bolsonaro fizeram críticas ao líder do governo na Câmara, e sugerem um nome do Centrão para a vaga.
Outro grupo do Planalto sugere que Maia seja ouvido a respeito do nome para o posto.
Já Maia acredita, nos bastidores, que trocar Vitor Hugo seria apenas buscar um culpado por uma operação errada que teve a digital de outros integrantes do governo e de Lira.
Nesta quarta-feira, Bolsonaro destituiu Bia Kicis, uma das sete parlamentares bolsonaristas que votaram contra o projeto.
Na avaliação de um ministro, a nova postura de Bolsonaro é uma sinalização de que o presidente quer o diálogo com a classe política, e tem sido aconselhado a se afastar da ala mais radical de apoiadores.